segunda-feira, 10 de março de 2008

UM ATO - HUMANOS 01

FIM DE TARDE

Um extenso corredor acolhido por uma sucessão de janelas de vidro, do lado oeste do velho prédio de apartamentos. Na vista panorâmica, o Sol se põe em luzes amarelas cintilantes, enquanto sombras em cinzas rebatem as colunas que cruzam o corredor.

Ela surge correndo, não escondendo o choro. Apreensiva, quase em choque. Maquiagem sóbria, sobre um curto vestido de veludo azul marinho, cabelos soltos e saltos de agulha estalando no piso de taco.

Ele então, remoendo um sentimento de culpa lacinante, morde os lábios e sente a culpa invadir sua razão causando uma mistura de sentimentos que ele mesmo ainda tenta decifrar em tão pouco tempo.

(Uma música para acompanhar e volte ao texto, se não perdes o fio da meada)

http://br.youtube.com/watch?v=NmoE8_U-JTw

O vento entra pelas basculantes grandes das janelas de frente ao corredor. Ela pára por um momento e suspira. Parece tonta.
Ele chega no início do corredor e sente a pressão ao vê-la tão desprotegida.
Caminha sério, ansioso e ele então percebe que ela sabe que ele está chegando. A verdade havia sido descoberta.

ELA - Eu nunca entendi sabe... Não sei como pôde.... (Suspira dolorido)
ELE - (Silêncio)
ELA - (Ainda de costa) Não existe uma maneira menos cretina de você acabar tudo isso sem me machucar?
ELE - (Chegando sem jeito) E-eu não queria que fosse dessa forma...
ELA - (Virando de frente para ELE) E mente de forma tão convincente, fingindo se importar agora com o que eu sinto.
ELE - (Abaixa a cabeça) Eu sinto muito, sinto de verdade, mas eu não posso prosseguir com algo que vai piorar daqui algum tempo... Eu queria poder mudar tudo, dar um giro pra trás no tempo e fazer tudo ser diferente... Mas, mas... eu não posso. (Resigna-se)
ELA - (Olha diretamente para o rosto dele) E pensar que poderíamos ter um mundo inteiro em nossa volta como testemunha de um sonho que estava próximo de se tornar realidade, mas você precisava ter feito o que fez? Precisava?
ELE - (Olha para ELA e depois ergue a cabeça em reflexo, para em seguida dar um suspiro baixo) Eu agi errado...
ELA - (SILÊNCIO)
ELE - Tudo o que eu falar não vai justificar o que eu fiz e sei que não foi culpa sua.
ELA - Eu sei disso e não aceitaria nenhuma palavra sua pelo que fez.
ELE - Olha foi algo mal-sucedido, um jogo cretino de palavras e egos.
ELA - (Com raiva) E eu era o prêmio? De forma tão cretina eu era o prêmio?
ELE - (Impassível e relutante) Sim.
ELA - (Enxuga as lágrimas e vira o rosto) Não deveria estar assim e me sentindo tão fragilizada, mas posso dizer que você fez o seu trabalho direitinho, parabéns.
ELE - Desculpe.... Sério... Me desculpe.
ELA - (Se virando e distanciando dele) Vai embora! Vai... Não preciso de desculpas. Daqui à pouco você sentirá piedade e vou mandar você se foder.
ELE - Eu errei muito...
ELA - Quer se sentir bem, procure um padre e se confesse, se tiver um pingo de respeito pelo próximo me deixe em paz.
ELE - (Parado, mexe a boca e olha com desapontamento) Ainda não sei o que houve de fato, mas eu vou sentir a sua falta.
ELA - (Volta com raiva, dedo em riste próximo ao nariz dele) Não faça isso, não seja mais idiota, imbecil do que já foi. Não substime minha inteligência e nem minha dor.

Ela dá as costas e caminha firme, ergue a cabeça e os últimos raios do sol ainda teiman em invadir o extenso corredor que leva até a porta de seu apartamento. Ela então pára por um momento, pega a bolsa e abre, pega um envelope branco e joga para o alto. No percurso da brisa o envelope flutua pelo espaço até cair aos pés dele, que permanece parado observado tudo.

Ele pega o envelope abre e retira a foto.

Ela então dá um sorriso valente, engole o resquício de choro e entra em seu apartamento.

Ele olha a foto e focaliza o seu momento de intimidade com o namorado.

Enfim, ela acabou descobrindo a verdade. Ele, perdido a aposta, pois se importou de fato com o sentimento dela. Pela primeira vez uma mulher havia balançado o seu íntimo.
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