sábado, 13 de março de 2010

Um até breve...

Por um ano tive experiências maravilhosas no uso do Twitter. Conheci gente muito boa, pessoas motivadas em conhecer e aprender. Deixe me seduzir pela ferramenta e formalizei amizades concretas com gente produtiva e que fazia a diferença no meio. Não me ative as diferenças comuns entre elas no que diz respeito a convivência via essa rede social. Até mesmo porque diferenças devem ser resolvidas, à contento, ao vivo, Twitter são para poucos que entendem o seu uso como expositor de interesses quase coletivos e a formalização de amizades.

Aprendi muito com as pessoas e avatares. Cruzei a faixa dos 10.000 tweets com aquilo que sempre acreditei e perpetuei. Porém, uma vez Domingues Jr. postou. "Intimidade demais causa falta de respeito", um ditado inglês. E sei o quanto isso é verdade.

Diante de algumas situações inesperadas e por gostar demais das pessoas que sigo, esgotei. Preciso de um tempo para pensar e reavaliar conceitos. Parece tolice, mas não é. Twitter é uma ferramenta ainda em perspectiva de conhecimento e democraticamente ímpar. Digo que o Twitter é seu e você faz dele o que bem entender, mas prego que existe uma linha coerente de respeito e ética.

Em vista das amizades que formei, da confiança que me foi prestada, do conhecimento que adquiri e do respeito a que me foi delegado neste curto espaço de tempo é hora de dizer um até breve.

Para aqueles que confiaram em mim e na minha amizade digo que estarei atualizando com mais constância o meu blog e os contatos serão permanecidos no Facebook, no MSN, Orkut e Gtalk. Não dou unfollow e nem block em ninguém, pois ainda acredito nas pessoas e amigos. Não desativarei o meu Twitter, mas ele ficará inoperante por um bom tempo. Utilizarei somente o institucional da minha empresa (Rondoniaovivo) para atualização de links das matérias.

Um abraço nos rapazes e amigos, um beijo nas meninas e amigas. Nada é definitivo, mas breve. Portanto juízo. Adoro vocês tuiteiros.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Quase perfeição das leituras de sempre



“(...) Era verão e tudo estava fresco, brilhante e cheio de vida. Havia uma cantiga em cada coração e, se o coração tinha poucos anos, essa cantiga vinha até os lábios. Tosos se mostravam contentes e andavam com desembaraço. As alfarrobeiras estavam em flor e o perfume dessas flores enchia o ar. O monte Cardiff, a cavaleiro da aldeia, estava coberto de vegetais e ficava precisamente à distância necessária para tomar o aspecto de uma terra de promissão convidativa, cheia de sonhos e tranqüilidade.” –
Twain, Mark – “As Aventuras de Tom Sawyer”, Cap. II, pág. 17 – Editora Nova Cultural, 2002.

Esse é pra mim um dos mais lindos parágrafos já escritos para um livro. É utópico, lírico e paisagisticamente perfeito. Dá para respirar o ar do campo na detalhada, mas sutil descrição do seu autor. Isso porque Twain descrevia a região de onde viera, onde passara a infância e de onde, de certa forma – sem generalizar – todos possuem suas melhores recordações.

Por que começar o texto com ele?

Só para dar um modelo de um tempo em que as situações da vida eram amaciadas através da visão poética. Isso quando a poesia, sem sua vertente mais lírica, fazia sentido quase nostálgico.
No amargor dos tempos vindouros, o progresso cuidou para que esse sentido de literatura esteja transformado em clássico, em referencial lúdico para gerações de leitores, sem ater no real sentido do significado daquelas palavras. Eu poderia citar um grande número de escritores tão absolutos quanto obrigatórios nesse sentido, até mesmo aqueles marginalizados pelos mais puristas – como Henry Miller, Charles Bukowski e J. D. Salinger -, mas dentro de seu tempo, na sua época e se ateram à sua visão crítica e, porque não, vivência particular e instransponível ao nosso consciente sem mostrar a essência na crueza de suas linhas, ora realista, oportuna e por vezes lúdica dentro de sua concepção pessoal.

Do público que queria atingir, essa poesia que surge na descrição é nostalgia, é beleza gráfica dos sentidos que movem a história de suas vidas.

Se hoje a comunhão de atingir um público maior de leitores se encontra no impacto de mostrar o grafismo de sequências pseudodramáticas que se transformaram em lugar comum pela urgência de fazer uma leitura rápida, do tipo fast-food, basta comprovar vendo as listas de best-sellers, onde a capitalização de esforço literário se encontra em literatura de aspecto pop – sem a subjetividade que a palavra exige – onde o recurso de pensar já está mastigado nas linhas, não exige muito o pensamento reflexivo.

Não é todo ruim, pois de alguma forma isso incentiva a leitura para uma geração onde tudo é rápido, do moderado ao maniqueísta e processado em gigabytes. Encontrar jovens lendo textos longo, histórias com um certo grau de complexidade (nem tanto) remete a uma esperança de que nem tudo pode estar perdido.

Mas vale lembrar que o autor é a memória do seu tempo, quando no ápice de sua criatividade pode oferecer o que melhor sabia fazer. Eu creio que a literatura deu esse direito, permitiu aos seus asseclas de letras o dom de nos fazer pensar, buscar o além do que até então parecia ser absoluto.

“(...)Estamos no outono do meu segundo ano em Paris. Mandara-me para cá por uma razão que ainda não consegui compreender. Não tenho dinheiro, nem recursos, nem esperanças. Sou o mais feliz dos homens vivos. Há um ano, há seis meses, eu pensava ser um artista. Não penso mais nisso. Eu sou. Tudo quanto era literatura se desprendeu de mim. Não há mais livros a escrever, graças à Deus.” – Miller, Henry – “Trópico de Câncer”, págs. 07 e 08. Editora Nova Cultural, SP/1987.

A sobriedade dessas linhas de Miller permite pensar que quando não há nada mais para se escrever ou transmitir, é melhor parar. É verdade, a coerência de se fazer vivo, da busca da imortalidade está na transmissão de pensamento, no organizar das idéias, fabular e transformar em material de acesso às massas, ou a quem possa – e de direito – interessar. Livros possuem essa magia de quase perfeição. Ler é sagrado, como vincular a palavra ao maior livro cristão de todos os tempos, a Bíblia.

A razão de escrever é mostrar vida através do pensamento, relatar experiências ou apenas uma reflexão do passado através de romances, contos e poesia. Essa é uma visão purista ligada ao cerne da criação dos clássicos através dos tempos. Vejo nesses livros, em cada um deles que li um pedaço do seu autor descrito e escrevo isso em referência àqueles autores que tudo dizem numa única linha de frase ou, ainda, transbordam de lirismo uma passagem tão banal quanto a descrição de um lugar, de um ambiente que nos parece familiar apenas pela leitura das palavras certas, na sua composição ortográfica perfeita. Por isso gosto do parágrafo de abertura desse texto, citando Mark Twain. É simples, objetivo, claro e muito bonito.

Se a banalização de sentimentos que hoje pululam as leituras mais radicais de nosso tempo, movidos por feitiçarias, serial killers, corrupção de menores, violência, vampiros e lobisomens, na busca da catarse do leitor e surgem efeito no sucesso literário, os livros de auto-ajuda se transformaram em referência da busca do sentido da vida, na adequação ideológica que é ao querer se adaptar ao capitalismo irreparável da vida real e no labirinto fatal que é o neoliberalismo.

Parece salada mista, mas não é, pense que a forma de espairecer a mente, dar um refresco ao corre-corre da vida cotidiana pode muito bem estar atrelada na leitura de um bom livro, mas quem determina essa literatura é você, e se o livro é bom ou não já é uma opinião pessoal e ligada ao estilo de vida que você escolheu.

Vão me perguntar se me refiro a alguma obra ou autor em particular... Sinceramente, não. Mas posso dar um exemplo do que é uma obra primorosa e que depois cai. Todos que gostam de cultura pop falaram do filme “Matrix” (1999/Irmãos Wachowski), as referências literárias eram enormes – da literatura cyberpunk de “Neuromancer”, de William Gibson, a “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carrol, até menções claras da Bíblia -, com suas idas e vindas na filosofia oriental, nos diálogos originários do mangá, ou seja, para o fim de século, o filme era um leque reverencial à cultura moderna na linguagem até niilista das geração “ponto com”. Foram feitas duas continuações que literalmente pulverizaram a “pureza literária” que o filme parecia ter reciclado tão bem para essa geração e transformaram em arremedos da obra original – em uma profulsão de efeitos apenas – com a manipulação de referências que perderam a coesão , banalizou e ficou extremamente maçante. O interessante é que os seus próprios autores cuidaram do desserviço, algo raro.

Na literatura é parecido, de repente, para cada “O Senhor dos Anéis” (J. R. Tolkien) existem dez “Harry Potter” (J. K. Rowling) – não desmerecendo a obra que trouxe a descoberta da leitura para essa geração avessa à letras extensas. Pronto, é só um exemplo que explica o que quero dizer. A pureza clássica dá origem aos diluidores, que apenas acrescentam contemporaneidade kitsh onde antes existia espontaneidade. No caso de Tolkien, é um estudo lingüístico de extrema riqueza. Já referente a “Matrix”, dos Wachowski, no resgate do referencial literário do primeiro filme, rico em forma e expor a modernidade a partir do clássico, se perde em sua extensão desnecessária (duas continuações desnecessárias). Queiram ou não, por mais que sejam linguagens distintas - literatura e cinema -, o fator aqui é a criação, por isso o exemplo.

Acho que no alvorecer das idéias com que alguns leitores ávidos procuram nos livros, o tratamento respeitoso da língua e a coragem de seus autores em colocar seus pensamentos em situações ou personagens servem como referencial de vida. O fato é que, os nossos melhores livros são aqueles que identificamos personagens tão solidários quanto precisos na descrição de algumas pessoas próximas, ou situações que vivenciamos ou apenas interpretamos como coincidentes na vida real.

Creio que muitas vidas se assemelham a livros, personagens e autores quando os sentimentos se amalgamam numa comunhão comum às pessoas sensíveis. Convenhamos, a vida é quase perfeição quando estamos sós e nas viagens de nossos pensamentos, na argúcia de nossos devaneios, o mundo está apto a aceitar todos os nossos sonhos e desejos, sem pestanejar, pois nos momentos de solidão somos senhores da razão, da realidade, do pensamento e da nossa história. Penso que os grandes autores poliram suas idéias e transcreveram para o papel suas histórias a partir desses momentos. Em respeito a eles é que alguns dos melhores livros de todos os tempos já foram escritos e isso foi há muito tempo.

“(...) Bebi até a hora de fechar. Cass, a mais bela das 5 irmãs, a mais linda mulher da cidade. Consegui ir dirigindo até onde morava. Não parava de pensar. Deveria ter insistido para que ficasse comigo em vez de aceitar aquele “não”. Todo o seu jeito era quem gostava de mim. Eu é que simplesmente tinha bancado o durão, decerto por preguiça, por ser desligado demais.

Merecia a minha morte e a dela. Era um cão. Não, para que por a culpa nos cães? Levantei, encontrei uma garrafa de vinho e bebi quase inteira. Cass, a garota mais linda da cidade, morta aos vinte anos.

Lá fora, na rua, alguém buzinou dentro de um carro. Uma buzina fortíssima, insistente. Bati a garrafa com força e gritei:

- MERDA! PARA COM ISSO, SEU FILHO DA PUTA!

A noite foi ficando cada vez mais escura e eu não podia fazer mais nada.” – Bukowski, Charles – “Crônica de um amor louco”, págs.16 e 17. L&PM Editora/1987.

Dos referenciais literário que possuo Bukowski foi o mestre necessário que da marginalização estendeu sua influência crua e rasteira a uma dimensão de arte, ao retratar sua própria vida de boêmio, onde vivia em um mundo no status quo miserável da natureza humana que se transforma em uma autêntica “mosca de bar” (barfly), entre cervejas, vinhos, putas, perdedores, quartinhos imundos e um intelecto profícuo demais.

No contexto da antítese deixo algo que me remete a uma descrição solitária que só os observadores podem se ater, por isso mesmo dentro do contraste entre bruto (Bukowski) e o lírico (Tchekov). Um Primor de descrição não só de ambiente como de costume social.

“A igreja paroquial está situada a duas longas léguas da aldeia, na vila de Kosogorov. Só se vai lá nas grandes ocasiões, para os batizados, os casamentos, os enterros. Habitualmente, os habitantes de Yukovo ouvem missa na igrejinha do outro lado do rio. Nos domingos em que fazia bom tempo, as moças enfeitavam-se e dirigiam-se aos bandos para a igreja. Os seus vestidos, vermelhos, amarelos ou verdes, pintavam a pradaria com belas manchas de cores alegres. Quando fazia mau tempo, todos ficavam em casa. A Páscoa era festejada na paróquia, e quando, depois da festa maior, o sacerdote vinha benzer as isbás, recebia a multa de quinze kopeks paga por todos aqueles que não tinham tido tempo de praticar as suas devoções durante a Quaresma (...)” – Tchekov, “Contos” – Pág. 159 – Otto Pierre Editores Ltda – Rj 1979.

Não siga à risca o que escrevi, pois num país em que ainda existe um número muito grande de analfabetos, só o fato de ler uma cartilha com a história das vogais e consoantes, já é um passo enorme. Ler é preciso, ensinar mais ainda, assim como sonhar é necessário para adoçar a vida. O primeiro passo é valorizar a leitura para as conseqüências almejadas na formação de um leitor consciente.