
DVD - "Sexo, mentiras e videotapes" - (Sex, lies and videotapes/1989) - Sempre escrevo e digo que todo amor perfeito tem um fim inesperado. É uma afirmação para dizer que tudo tem um fim, mas a duração é eterna até o momento do adeus. Apologia nada legal para românticos. Esse filme, escrito e dirigido por Steven Soderbergh (de "Onze homens e um segredo" e "Traficc"), foi feito quando ele tinha pouco mais de 20 anos e recebeu a Palma de Ouro em Cannes. É um filme relativamente muito barato, usa quatro atores fixos e uma trama incomum, mas incrivelmente atual. O roteiro tem um final coletivo, decidido pelos atores e que se situa mais coerente com o desenrolar da trama. Um advogado bem sucedido (Peter Gallagher) é casado com uma dona de casa (Andie Macdowell) que vive um fastio sexual por causa da monotonia, porém ele mantém um caso com a ardente cunhada (Laura San Giagomo). A rotina dele se altera com a chegada de um amigo de infância (James Spader) que resolve passar alguns dias na cidade. Ficamos sabendo então que o rapaz é impotente e grava em vídeo depoimentos de experiências sexuais de mulheres. Durante o decorrer do filme fica-se observando o fascínio que ele causa nas mulheres e o modo como as convence a prestar um depoimento. Tudo se transformar quando as duas mulheres da vida do advogado resolvem prestar o depoimento e tentam compreender a cabeça complexa daquele homem, que se diz impotente. Então exposições de traumas íntimos, rancor e mentiras são expostas em uma sucessão de clímaxes que conduz para uma virada na vida de cada um dos personagens. Esse foi o filme que me impressionou pela economia de diálogos, mas todos tão precisos e bem feitos, e as motivações intensas dos personagens. É fácil assimilar os medos, anseios e encontrar uma identificação sólida com a projeção traumática do personagem central, vivido por Spader - sua impotência tem uma razão fixa, porém pode servir de metáfora a uma série de questões pessoais. Esse foi um dos primeiros filmes a questionar e expor uma geração inquieta, que passava pelos anos 80 quase incólume pelo processo degenerativo da acomodação e do egoísmo emocional. O romance que poderia ser impróprio se torna uma catarse digna de um fim quase inesperado. A cena de sedução dos personagens de Andie MacDowell e James Spader, com trilha eletrônica, é um primor de sutileza e delicadeza (veja abaixo). Dos melhores filmes que assisti nos anos 80 e está na minha lista de dramas favoritos de todos os tempos.
