terça-feira, 9 de junho de 2009

Saudade... - Tomo II


O primeiro passo foi dado quando o rapaz com "complexo de Pinóquio" um dia me disse que poderia voar com um Búfalo (aeronave da FAB) com uma das mãos nas costas. Apesar dele ser muito alegre e efusivo, ainda assim acreditava nas suas mentiras e vivenciava elas como se fossem a última realidade da sua vida. Foi um guia do início da adolescência, mas não guardo boas recordações, apesar de um grande aprendizado.

Sabe aquele período em que as descobertas ficam entre o prazer e o medo? É uma sensação esquisita, pois é tudo novo, os direcionamentos das decisões são decorrentes do impulso do momento... E... Claro, na maioria das vezes as nossas decisões são erradas. Não existe trilha sonora para isso, mas tenho flashes de imagens e música. Na casa de meu amigo "Pinóquio", na sua velha vitrola sobre a cadeira da sala, discos conservados do Queen, Van Halen e Led Zeppelin. Não entendia muito bem qual era o barato daquilo tudo, as canções era épicas, cheias de riffs de guitarras, longas escalas de solo e tudo me parecia tão tedioso e chato.

Era pop demais para o gosto aplicado dos rocks clássicos dos meus amigos. Quase todos fumavam (cigarro tradicional mesmo, nicotica, tabaco e aditivos químicos industriais) e eu tentei, mas foi uma merda. Fumaça não combina comigo mesmo. Todos pareciam cool. E eu? Um nerd atrapalhado que adorava as revistinhas (formatinho) da editora Abril, que publicava os super-heróis da Marvel e ainda achava que o Men At Work, Toto, B'52 e Slade eram as grandes bandas do momento.

Tarde demais quando abri em julho de 1985 a revista Bizz nº 01, cuja capa era Bruce Springsteen e a matéria do jornalista José Augusto Lemos sobre uma banda inglesa, até desconhecida no Brasil, era o grande must do continente europeu: The Smiths. Fudeu. Descobri o indie rock britânico.

Mas ainda havia os amores platônicos, ao som de Foreigner e Bryan Adams ("Heaven", que era tema da novela "A Gata Comeu" - da rede Globo), que incendiavam meu coração, plantavam sementes sobre a problemática meretriz chamada paixão. E tinha Rita (paixão de pré-adolescente), mas tinha a maior de todas, Jôse, cabelos castanho e curtos, corpo esguio e muito sorridente. Tinha uma ternura cândida e um desejo explosivo por descobrir até onde ir os seus limites na adolescência. Me enganou e me ensinou alguma lições sobre as mulheres. Mas não foi ruim, mas dolorida, bem dolorida. Perdi um amigo, ganhei experiência de vida e as seqüelas ficaram por um longo tempo (quase dois anos) até conhecer Solange - a mais linda de todas as paixões adolescente, regida por uma breguice trilha "Lady in Red". Mas fez uma diferença absurda para romper a minha timidez. Só um detalhe, ela era cinco anos mais velha do que eu era, quando fiquei encantado.

Mas eram situações tão intensas e não conseguia entender como sobreviver a tantas emoções. O tempo me ensinou que ele, o tempo, era a a solução. Havia também uma infinidade de descobertas a serem experimentadas como livros, músicas, gibis, pessoas, lugares, a cidade - Porto Velho. Estava na trilha do conhecimento profundo entre a menoridade e a maioridade. Um passo que me dividia entre as ações, por vezes ingênuas, e nas conquistas obtidas através de algum sofrimento ou perda. Era um garoto tentando vislumbrar um futuro que não acreditava vir tão cedo.

Perdi amigos (despedidas são doloridas), ganhei apelidos, fui insultado, driblei o destino e recebi abraços afetuosos, sem os beijos rápidos de cumprimento. Ainda assim havia o vislumbre do pôr-do-Sol na época de estiagem, quando o astro rei fica mais próximo e sobre o rio Madeira, ao som de Raul Seixas, passeando nos barcos pelas margens, tudo parecia extremamente calmo e sereno. Minha juventude era um passo próximo da poesia, mas ainda se debatia em raspas na tragédia grega.

Afinal, pensava na época, de repente, tudo é parte um aprendizado que pode me levar para um destino que ansiava: viver sempre bem. E eu sei que nem sempre foi assim e Renato Russo, nesse tempo, era o maior poeta do cotidiano de descoberta. Ele retratava aquilo que eu vivia.

As rodas de violão, as noites de conversa na velha praça do Trem, o céu coalhado de estrelas em noites de blecaute. Havia os sussurros e os olhos arregalados diante do perigo e do inesperado. Porém, na respiração ofegante, depois de uma longa correria, havia a esperança de um dia a mais a descobrir.

Depois da primeira turma de amigos - onde as primeiras descobertas foram emotivas, decepcionantes... Já partia para a segunda turma...