sábado, 18 de outubro de 2008

DEUSA DO POP - Uma dança e um martini - Parte I


POP é um singular termo abreviado para o que é popular e acabou. É moderno, sim, a linguagem é mais icônica e fadada a interpretação óbvia do superlativo de intensidade das coisas que permeiam o inconsciente in nature das grandes metrópoles - e (vá lá) em interiores restritos onde os jovens, em sua grande maioria, podem se resfelar no prazer de adorar seus ídolos musicais.

Desse panteão feito para poucos uma tem o absoluto tempo de sua interação com o mundo pop, Madonna Louise Veronica Ciccone, a estrela mór, Madonna, a mais intensa criatura feminina a se manter por mais de duas décadas no topo das paradas e conciliar a sua verve cultural - por sinal, muito interessante - com o talento para desprender a várias direções que não seja só a música e deixar uma marca indelével, conquistando jovens e adultos desde a geração conformista da década de oitenta, passando pela geração descolada de noventa e se mantendo firme com a geração ipod pós segundo milênio.

Madonna é detentora de quase todos os recordes absolutos para a Rainha do Pop da música mundial. Se transformou, radicalizou e, no fundo, apesar das ousadias ainda mantém um pé no conservadorismo quanto ao trato de sua família, até mesmo porque o seu engajamento através da Cabala a levou a ponderar sobre algumas atitudes que quase a derrubaram - como a vida tresloucada que deixou transparecer na fase "Erotica"- alguém lembra do vídeo-documentário "Na Cama com Madonna"?.

Só para dar ênfase ao fantástico talento de Madonna no que diz respeito ao seu sucesso, basta lembrar, com dados do Guinnes Book, da Billboard, da Agência FamaPress, que a "Deusa" detém nove Grammy (o maior e mais respeitado prêmio da música norte-americana), dois Globos de Ouro (graças ao filme "Evita") e dois Oscar (por música de trilha sonora), na MTV ela é a vencedora absoluta do VMA (MTV Video Music Award), com 21 prêmios - ela foi a primeira artista a se apresentar na primeira edição do prêmio da MTV americana, em 1984. Contabiliza também que Madonna já vendeu mais de 130 milhões de álbuns e 100 milhões de singles em todo o planeta. Madonna é a artista feminina que possui também a turnê mais lucrativa da história da música pop, a série de shows para "Confessions Tour", de 2006. Sem contar, por fim, que ela foi considerada pela revista Forbes, como a artista feminina mais poderosa do mundo, com um fortuna avaliada em 1 bilhão de dólares.

Ufa! Que mulher prodigiosa. O interessante é que Louise ataca outras frentes, pois é uma escritora de livros infantis bem sucedida (ela criou uma série que iniciou em 2003 com "As Rosas Inglesas" e depois lançou "As Maçãs do Sr. Peabody"), produtora musical, compositora, coreógrafa, atriz e diretora de cinema também. Acumula funções e testa no limite talentos que parecem enraizar de suas experiências pessoais.

Quando eu era adolescente, com 16 anos, lembro que a TV Manchete (já extinta), tinha um excelente programa de vídeoclipes, e das primeiras coisas que me fascinaram foi o vídeo de "Borderline", o gancho da música é maravilhoso, com aqueles arranjos sintetizados da pós-disco e ainda saturado com a new wave tatibitate dos produtores de músicas assobiáveis.

A história básica do vídeo era de uma moça que aceitava posar para uma série fotos publicitárias contrariando a vontade do namorado, latino, que a rejeitava em detrimento do seu machismo latente em querer mostrar para os amigos que, quem mandava era ele. Ou seja, ela não obedeceu a sua vontade, não merecia a sua atenção. Uhuuuu.... Madonna desde cedo mostrava que a história não era bem assim. Ela posa para as fotos, contrariando o namorado. Dança, brinca e se revela para as câmeras, depois vira uma estrela de sucesso e o panaca do ex-namorado volta atrás dela sabendo que não tinha sido legal. A vingança é doce. Era uma história boba, mas serve de metáfora abreviada da vida artística da "Deusa", nunca a contrarie, pois por mais que ela seja passional, o que prevalece, de fato, são os seus interesses reais, gostem ou não.

Aquele era o vídeoclipe que toda a adolescente sonhava - pelo menos grande parte das minhas amigas adoravam sua atitude -, dar a volta por cima depois de ter levado um fora, mas aí a Madonna destempera e regurgita a caretice, com a apimentada "Material Girl", sua imagem decorrente da referência cinematográfica do filme de Marylin Monroe em "Os homens preferem as louras", no vídeoclipe se tornou icônica.

A sua lingua mordaz em versos simples calava a boca do conservadorismo e provocava a sociedade consumista com a linda "Like a Virgin", para mim, uma das melhores músicas do século passado. O disco, de mesmo nome, lançado em 1984, produzido pelo grande Niles Rodger (principal mentor da seminal banda da era Disco, O Chic) era um prisma de referência pop. E olha que era só segundo disco da Madonna. Ela não fazia frente de mesmice, era maravilhosa mesmo, até quando criava um estilo adolescente desleixado. Ainda que fosse a época da garotada curtir "Rambo II" e "Comando em Ação" - filmes altamente populares - o show referente a esse disco (da primeira turnê dela, "The Virgin Tour"), apresentado pela Rede Globo na íntegra, era de uma vulgaridade arrebatadora.

No ótimo sentido.... Madonna de crucifixo, barriga de fora, com rendas e saia curta, meias arrastão, cabelos louros caindo pela testa, jaqueta multi-colorida e forte maquiagem, era um deslumbre de tesão e cumplicidade automática com a libido adolescente masculino e feminina.

Ali fui arrebatado pela Deusa da lascívia pop, até onde o limite parecia ser uma tênue pelica de resistência moderada.


NO BRASIL


Na véspera do seu mais recente show aportar em terras brasilis - a preços salgadíssimos, escreva-se de passagem (quem tiver, não perca por nada desse mundo) -Madonna envolve problemas de cunho pessoal - essa semana foi anunciado o seu divórcio com o diretor inglês de cinema, Guy Ritchie, com quem teve o filho Rocco, e viveu por sete anos - com o sucesso absoluto da turne "Sticky & Sweet Tour", que segundo o site oficial da cantora no Brasil, o madonnaonline, deve arrecadar até o final do ano, aproximadamente 250 milhões de dólares, se tornando a turnê mais rentável de 2008 no showbiz.

Madonna já está com shows agendados no dia 14 de dezembro no Rio de Janeiro e dias 18 e 20 de dezembro em São Paulo.

O show é dividido em quatro blocos distintos: PIMP (com as músicas: Candy Shop, Beat Goes On, Human Nature e Vogue), Anos 80 (com: Die Another Day, Into The Groove, Heartbeat, Borderline, She's Not Me e Music), CIGANO (com: Here Comes the Rain Again, Devil Wouldn't Recognize You, Spanish Lesson, Miles Away, La Isla Bonita/ Lela Pala Tute e You Must Love Me) e finaliza com RAVE (com as músicas: Get Stupid, 4 Minutes, Like a Prayer, Ray of Light, Hung Up e Give it 2 Me).

Por falar em "Deusas" e seguidoras, a herdeira legítima do trono de Madonna, Britney Spears, tem uma participação ótima em vídeo na canção Human Nature, que integra o set list do show.

Madonna passando pelo Brasil novamente vai ser o grande must de fim de ano na área de entretenimento musical no que diz respeito ao POP, como essência da palavra e a sua representação icônica. E olhe que em novembro ainda tem o R.E.M. (uma das minhas bandas favoritas em todos os tempos), do carismático vocalista Michael Stipe, fazendo uma série de shows no país também.

Não tem cabecice, piração lítero exibicionismo e nem depreciação de pseudos-intelectuais, como bem dispõe a hermenêutica do POP, onde tudo se torna sagrado a uma boa diversão se regrada a ótimas canções, uma artista polivalente consagrada, uma excelente estrutura de palco que mistura cabaré, luzes, coreografias e uma miscelânea de bailarinos, banda e efeito integrando platéia e artista. Convenhamos, desde muito tempo Madonna sabe o que faz. Ela vale mais do que uma dança e um martini.

"Deusa" número UM, desde sempre.

CURIOSIDADES DA MINHA VIDA COM MADONNA

- Eu ainda tenho em vinil os três primeiros discos da Madonna(o de estréia, homônimo, "Like a Virgin" e "True Blue"), guardados como novos, além de um EP (Extend Play) da canção "Live to tell";

- Ainda tenho guardado um poster gigantesco da primeira turnê de sucesso dela, quando havia acabado de lançar o segundo disco, "Like a Virgin";


- Detesto a fase "Erotica" dela, de 1992, quando ela lançou um livro chamado SEX, e fez uma série de vídeoclipes belíssimos, sensuais e abusados, mas musicalmente confusos. Lembro que desse período resultou a turnê "The Girlie Show", que veio até o Brasil inclusive. A mistura sado-masô, lesbian libertária, resultou marketeira ao extremo.

- Como atriz eu acho péssima, mas adoro "Procura-se Susan Desesperadamente", primeiro filme em que tem um destaque essencial e rouba a cena (a atriz Rosana Arquette era a protagonista da história), o filme é de 1985. Muitos fãs gostam dela no filme "Evita", pra ser sincero, acho o filme irregular (Alan Parker, prestigiado diretor inglês que tem no currículo musicais clássicos como "Fama" e "The Wall", não estava em seus melhores dias), mas gosto das canções da trilha sonora.


- Eu acho que Madonna tem essencialmente discos que chegam muito perto da perfeição, mas considero dois álbuns dela preciosos para se conhecer a maturidade artística, do início de sua carreira até a fase atual (com domínio total de seu produto e da figura como estrela pop): "Like a Virgin" (1984) e "Ray Of Light"(1998).