sábado, 17 de maio de 2008

Frases e melodia indie


Incrível como o senso de melodia dos ingleses permite vislumbres glaciais, melancólicos e vibrantes, é um paradoxo homérico que destoa o que de melhor o rock indie pode produzir. Quantas bandas começam como cult e acabam ganhando uma dimensão extraordinária, tombada pela popularidade. Foi assim com o Joy Division, New Order e The Smiths na década de 80, repetiu o ciclo nos anos 90 com outras bandas, como: Happy Monday, Blur, Maniac Street Preacher, Oasis, Supergrass, etc. Vez ou outra eu acabo descobrindo em alguns blogs específicos como o Britshpoint que apresentam algumas novidades do rock indie britânico, uma fonte rica de melodias, canções inesquecíveis, CDs maravilhosos, e coisas do arco da nova (que claro não é da velha... Putz, essa foi podre. Enfim...). Tudo isso para falar de uma banda chamada The Upper Room - Alex Miller (vocals & guitar), James Pattinson (guitar), Beau Barnard (bass) e Jon Barnett (drums). Inclusive, passei uma cópia do cd para a minha amiga Mara, que curte muito som indie.

O tratamento das melodias das 12 canções do primeiro trabalho da banda é um trato de referência retrô, com um passo adiante diante do punch dos herdeiros do pós-punk britânico, com aquele senso que beira o pop e o alternativo, mas tendendo ao popular mesmo. Fácil como os refrões são grudendo, fixam na memória instantaneamente e de uma simplicidade atroz. Como toda boa música, a complexidade se encontra na execução do simples. Alex Miller tem um vocal delicado, preciso e com agudos bem colocados nas composições. Percebe-se que os membros tiraram o sumo de suas referências musicais e apresentaram um frescor no que já foi visto em outras dezenas de bandas que surgem a cada ano no Reino Unido - que desnorteiam a imprensa musical, se destacando como "evento da semana" e que ganham capas e especiais passionais de publicações como Melody Maker e New Music Express -. Nenhuma novidade colossal, mas provocante e muito interessante.

Se as guitarras soam espaciais, melódicas, limpíssimas, a herança das cordas se referem a pegada mezzo urgente do Clash e os riffs e dedilhados refinados de Johnny Marr (entenda-se: fase The Smiths). A estrutura de cada canção upa aos ouvidos lembranças do revolucionário uso do "wall of sound", de Phil Spector, como a sobreposição de vozes, e percebe-se o lirismo culto e épico de um Maniac Street Preacher com a fase glitter de David Bowie (só na intenção, diga-se de passagem).

O que conta é a melodia, de fato, e as letras, todas banais, com frases curtas, em alguns momentos lembrando até hai kais, mas, intrísecas e perfeitas no casamento das canções.

Vou deixar alguns links com vídeoclipes da banda disponíveis no Youtube, são duas gemas preciosas do álbum de estréia deles, "Other People's Problems" (2005). Quem tiver acesso a esse CD vai descobrir o potencial dos caras. O Blogspot Britshpoint (o link tá no primeiro parágrafo) diponibiliza o download do CD.

- All over this town

- Black and white

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Nada mais do que o tempo e a estrada





Natureza que contrai o tempo, sempre curto, acelerado. Olhos comprimidos escondem as retinas da poeira que viajam no vento. Teu sorriso de menina e um segredo envolto em outro segredo e que somente a melodia da nossa nova canção pode provocar um embate de paixões retraídas.

Cabelos soltos, uma chama viva que incendeia as palavras contidas do seu carinho transversal, emitido em olhares furtivos, sorrisos de canto e cabeça baixa no decanto de uma vergonha amoral. Nunca esqueço os olhos que um dia me pediram carinho e só pude retribuir com um retrato.

Um momento de reflexão, de palavras ao vento da imaginação e leseiras que nunca, sinceramente, serão lidas por você. Melhor ainda ficar com a lembrança dos teus mimos e da graça de sua vinda.

A pontada da dor no meu calcanhar, na batida de alerta do destino que nunca deveria ter sido praguejado pela minha fértil imaginação, ainda que os momentos em que trocamos bobas conversas, na estrada solitária que sempre seguia para o norte, sejam lembrados em e-mails solitários, guarnecidos em Power Points banais.

E no fim de tarde, vento de um litoral imaginário, eu repito o “leave me alone”, dos versos melodiosos da canção de Upper Room, para que o refrão seja reforçado nas caixas de som do meu carro, como um pedido de misericórdia para que algo interrompa os nossos sonhos, nunca conquistados. Afinal eu sempre acho que apesar de todos em nossa volta, ainda estamos sós, sempre sós.

Novamente eu vejo pelo retrovisor a estrada partida, com o vento do litoral imaginário revoando meus cabelos e a ausência sentida de uma presença desejada, mas não alcançada. O tempo é cruel e o resto é melancolia. Eu, você, amigos, sempre, como poesia, versos, um olhar perdido no horizonte, o rio, mãos que se tocam, cabelos que se cruzam, desejo, beijos, carinho, abraços, tempo, tempo, enfim, dor contida, dor extensiva e a saudade de ver a partida. O tempo escoa no ralo na memória e o teu rosto (riso e choro) permanece como retrato vivo.

Natureza que contrai o tempo, o carro segue a estrada e tudo parece sorriso, ainda que a brisa mais fria anuncie a tempestade que está por vir. A vida segue e... Afinal, sabemos, que na verdade, nunca estaremos sós.


finito - Para "Mumu"
(Foto: Luis Eduardo/100imagens.com)

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Notas do "factótum"

Foto/legenda: Charles Bukowski em sua área de lazer favorita depois de escrever.


De manhã cedo, quando vou trabalhar, depois de ter levado meus dois filhos às suas respectivas escolas, eu pego o ônibus, com a minha mochila onde está o notebook, ao sentar ao lado da janela eu tiro um dos meus pocket-books favoritos (da extraordinária coleção da editora gaúcha L&PM) desses últimos dias, "Factótum", do Charles Bukowski, que está na bolsa da frente.

Difícil eu segurar o riso ou a melancolia quando passo as páginas de leitura com o que o velho safado escreve. São escritos que retratam o seu personagem alter-ego, Henry Chinaski, beberrão, desencanado, mulherengo, sem noção, etc. As situações são burlescas, enfadonhas, engraçadas, com uma poesia urbana metódica e rarefeita, quase imperceptível aos não acostumados.

Publicado em 1975, o livro é um "romance", para variar, auto-biográfico, onde o autor narra suas aventuras logo depois de ter sido recusado pelo exército para ir à 2a. Guerra. Chinaski circula em diversos empregos - encontrando patrões cada vez mais loucos -, mora um tempo com os pais, mesmo tendo que pagar pelo quarto e a comida, fode "ene" mulheres (de diversos naipes), se envolve com uma troupe de pervertidos, onde um velho milionário dar as cartas, passa um tempo com uma bêbada, onde chega roubar um pepino, mas se dá mal. Claro, bebe, bebe, mas bebe pra caralho, como uma verdadeira "mosca de bar" (me perdoem o trocadilho referente - Barfly).

Eu tenho, preciso colocar aqui alguns trechos maravilhosos desse livro e que me fazem ser um fiel leitor de suas agruras, sejam em forma de poesia ou prosa (como essa).


"(...) Naquela noite, meu pai apareceu com os trinta dólares. Ao sairmos, seus olhos estavam úmidos.
- Você desgraçou sua mãe e a mim - ele disse. Parece que eles conheciam um dos policiais, que acabou por lhe perguntar, "Sr. Chinaski, o que seu filho está fazendo aqui?".
- Fiquei envergonhado demais. Meu próprio filho na prisão...
Caminhamos até seu carro, entramos. Ele deu a partida. Seguiu com as lamúrias.
- Já era bastante ruim que você não quisesse servir a seu país neste momento de guerra...
- O psiquiatra disse que e não estava apto.
- Meu filho, se não fosse pela Primeira Guerra Mundial eu nunca teria conhecido a sua mãe e você não teria nascido.
- Tem um cigarro?
- Agora você vai parar na cadeia. Uma coisa dessas é capaz de matar sua mãe.
Passamos por alguns botecos na baixa Broadway.
- Vamos entrar num desses e tomar um trago.
- O que? Você está me dizendo que tem coragem de beber logo após ter ido parar na cadeia por embriaguez?
- É justamente quando mais se precisa de um trago.
- Não ouse dizer a sua mãe que você, mal saiu da cadeia, precisa de um trago - ele me advertiu.
- Também preciso de um rabo.
- O quê?
- Disse que preciso de um rabo.
Ele quase cruzou um sinal vermelho. Depois seguimos em silêncio.
- A propósito - ele disse por fim -, preciso lhe dizer que o valor da fiança será adicionado às despesas de quarto, comida e roupa lavada? (...)". - Página 27, Capítulo 14.

"(...) Ela deu meia-volta e caminhou lentamente até a porta. Sua bunda se movia sob a saia negra apertada; suas pernas eram douradas. Junto à soleira, ela parou e se virou, deitando seus olhos negros novamente sobre mim, deixando-os ficar. Fiquei pasmado, em brasa. No momento em que percebeu minha reação, lançou a cabeça para trás e deu uma gargalhada. Tinha um pescoço adorável e toda aquela cabeleira negra. Ela desapareceu no corredor, deixando a porta entreaberta. (...)". - Página 45, Capítulo 23.

"(...) As discussões eram sempre iguais. Eu entendia a questão perfeitamente - os grandes amantes eram sempre homens desocupados. Eu trepava melhor sendo um vagabundo do que tendo que bater ponto.
Jan iniciou seu contra-ataque, que era discutir comigo, deixar-me furioso e usar isso como desculpa para sair, percorrer os bares. Tudo o que ela precisava fazer era sentar-se sozinha ao balcão que as bebidas e outras ofertas seriam conseqüência. Naturalmente, eu considerava aquilo injusto da parte dela. (...)" - Página 92, Capítulo 48.

Perfeito. De fato Bukowski é um puta escritor. Procure o livro e veja que não estou de todo errado.

DIAS IGUAIS...



São dias iguais, colados entre segunda e sexta-feira. Casa, sol, filhos, escolas, ônibus, trabalho, trabalho, ônibus, lamentações, filme ou livro, madrugada, casa, sol...

São dias iguais, monótonos, visíveis de uma vida regular e semi-apaixonante, mas tão necessária ao destino como o pensamento voltado a um futuro de dias sempre melhores.

Uma noite, teclando no notebook, dando um olé no Wikipédia, alguém disse "oi" no MSN, era uma pessoa de codename Sui, achei estranho, não lembrava de ter-lhe add (ezado), mas enfim, bastante interessante, ela me pediu o endereço do meu perfil no Orkut e depois eu vi o dela. Trocamos amenidades soft (parece pleonamos, mas, bom... Não nos conhecemos mesmo, a conversa não rendeu). Mas foi algo de emoção info-tecnológica, tão fria quanto o gelo no meu copo com Coca Zero.

Dias iguais. De amenidades, visão centrada e música que move meus sentidos de locomoção. Nada demais, mas, tem sempre uma gota de orvalho no deserto. Ver uma foto nova de uma colega de faculdade em seu álbum do Orkut é sempre bom. Dani Coelho está como vinho em uma adega preciosa, cada dia melhor e mais encorpada (rsrsrs - isso foi um elogio respeitoso). Ela consegue alterar com uma pose, um sorriso, um dia como os outros.

Sempre bom quando tenho ainda cabeça para ficar na internet até de madrugada, em dia da semana, e ainda encontrar uma amiga como a Marcinha (de Maringá-PR), que tem uma conversa agradabilíssima e me faz lembrar coisas da minha infância - nós tivemos o que eu chamdo de "desencontros de destino", pois estudamos simultaneamente na mesma escola (quando crianças), tivemos amigos comuns, ela foi jornalista, minha profissão hoje e sempre, enfim... De alguma forma a continuidade da vida não nos permitiu que nos conhecessemos in corpore ami. Coisas da vida. Mas ela deixa sempre uma sensação de família e conjunção fraterna. Estranho, pois nunca nos encontramos e tenho a sensação de que somos amigos há uma longa data, quando na verdade a internet nos aproximou.

São dias iguais, mas alternados em momentos singulares, ainda que sejam dias de casa, sol, escola, filhos, ônibus, trabalho, trabalho... Ufa!

Afinal, são os meus dias iguais (e não posso viver sem eles).