segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Eterno adolescente – John Hughes


1) - A cena chave do filme é uma reunião intimista onde os cinco adolescentes falam dos seus delitos que os levaram a ficar de castigo um sábado inteiro na biblioteca da escola, sob a vigília de um diretor reacionário (nesse período, todos os adultos são reacionários).

2) - Outra cena é ver aquele cara de nome engraçado, Ferris Bueller, fazer tudo que um adolescente gostaria de fazer num dia ao gazetar a aula no seu último ano na High School (escola secundária), em um determinado momento ele participa de uma parada e surpreende à todos, principalmente sua namorada e o seu melhor amigo, que os acompanham nessa aventura. Num carro alegórico ele leva uma multidão a cantar com ele “Twist and shout”, dos Beatles.

3) - E aquela cena onde a Molly Ringwald (ai, ai... a musa ruiva teen da década de 80) desafia a convenção de sua origem humilde e resolve sair com o cara rico da sala, considerado uma figura extremamente popular na escola, com o risco de sofrer a humilhação. A delicadeza de suas atitudes, puras, decididas, adornada por tons e sobretons rosas.

4) - Mas a sinceridade pela felicidade do próximo se resume a cena em que uma amiga apaixonada pelo seu melhor amigo, constrangida, mas não menos motivada, o ensina a conquistar a garota pelo qual tá apaixonada lhe ensinando a beijar. Ali ela presta sua declaração de amor, já que o tonto a olha apenas como a amiga mais próxima a quem conta os seus segredos, só isso.

Marque abaixo os filmes respectivos:

( ) - Clube dos Cinco

( ) - Curtindo a vida adoidado

( ) - Garota de Rosa Shocking

( ) - Alguém muito especial

Todas essas cenas foram escritas por John Hughes, um roteirista e diretor que soube, como ninguém, escrever para os adolescentes, e mesmo que tenha utilizado situações e ações americanas, era o emocional, o sentido das palavras e motivações, tão universais ao ser humano, que ele simplificou e jogou nas telas com uma propriedade do amigão que gostaríamos que nos contasse uma história sincera.

Na década de oitenta ele virou ícone com uma série de filmes adolescentes que fizeram uma geração inteira. “Gatinha e gatões” (1984), “Clube dos Cinco” (1985), “Garota de Rosa Shocking” (1986) - como roteirista e produtor -, “Curtindo a vida adoidado” (1986) – o meu preferido e um autêntico clássico da “Sessão da Tarde” (Rede Globo) - e "Alguém muito especial" (1987) - como roteirista e produtor. E olha que Hughes era um escritor e diretor de refino humorístico fantástico, realizou uma das melhores comédias de todos os tempos – “Antes só que Mal-Acompanhado” (1987), que consagrou uma dupla improvável – John Candy e Steve Martin (o primeiro um vendedor de argolas para segurar cortina de banheiro e o segundo um executivo que perde o avião e precisa chegar em casa na noite de natal, os dois passam uma por uma série de aventuras dramáticas e muito engraçadas).

Roteirista profícuo, escrevia roteiros como se bebesse água, se tornou ainda mais rico ao produzir e escrever “Esqueceram de Mim” (1990) - dirigido por Cris Columbus -, que se tornou uma das maiores bilheterias de todos os tempos e consagrou o ator mirim Macauly Caukin. John Hughes tinha um pseudônimo curioso ao assinar parte de seus roteiros, ele assinava como Edmond Dantès (o personagem inesquecível do clássico “O Conde de Monte de Cristo”). A comédia “Beethoven”, por exemplo, ele assinou como Dantès.

Porém Hughes foi o cara que escreveu os melhores filmes da minha vida quando eu era adolescente, ele tinha a habilidade de escrever diálogos sensíveis sobre amor, família e relação, não deixando de lado um certo sarcasmo. Apesar de considerar que o ator Mathew Broderick fez o melhor personagem que o diretor já inventou – Ferris Bueller – e achar que “Curtindo a vida adoidado” seja, definitivamente, a sua obra-prima, o meu grande xodó era um filme para adolescente mais dramático, com uma força mais teatral, que fazia pensar e pesar as emoções. “Clube dos Cinco” – Breakfast Club/1985 – era um filme atípico, feito, em grande parte, num único cenário: a biblioteca de uma escola. Ali se concentravam os estereótipos evidentes: o atleta, o marginal, a princesa (no Brasil, “patricinha”), o estudioso e a esquisita, todos muito bem interpretados por atores que ficaram marcados para sempre – pela ordem: Emilio Estevez (Andy), Judd Nelson (John Bender), Molly Ringwald (Claire), Anthony Michael Hall (Brian) e Ally Sheedy (Allison Reynolds). Para cada um deles existia uma história de vida que era exposta em discussões acaloradas, piadas e situações dramáticas. John Hughes apenas representou um universo tão comum no dia-dia de todo adolescente como deveria ser mostrado no cinema. Ele, nesse sentido, foi perfeito.

John Hughes morreu no dia 06 de agosto de ataque cardíaco quando caminhava em Manhattan, ele tinha 59 anos.