terça-feira, 28 de outubro de 2008

All Star Superman de Grant Morrison - Revisitado


Eu mantinha um blog no Comicspace.com - um portal para blogs que lidavam com quadrinhos, ilustradores, fãs, nerd e congêneres. Ali eu escrevia somente sobre quadrinhos e falava dos lançamentos nas bancas que mais me atraíam. Um dos post que recebi mais comentários diz respeito ao arco de aventuras do Superman, escrito pelo escocês Grant Morrison e ilustrado pelo também escocês Frank Quitely, que recebeu o sugestivo nome de "All Star Superman" - o de mesmo cunho mas feito para o Batman, foi escrito por Frank Miller e desenhado por Jim Lee, deveras um trabalho inferior em todos os sentidos, até o exagero cinemático (e redundante) das ilustrações de Lee não compensam o péssimo roteiro de Frank, em seu pior momento nos quadrinhos.

Mas voltando ao Superman, escrevi uma resenha a respeito da série, que havia acabado de ser lançado no Brasil, por isso mesmo o texto é de 10 de outubro de 2007, com pouco mais de um ano e acompanhando sistematicamente a série que deve findar no seu 12º número, não mudo uma linha do que escrevi, definitivamente foi o melhor trabalho com o Super que eu li nos últimos 10 anos. Para não me repetir, reproduzo abaixo o texto que escrevi na época do lançamento.

-

O Superman de Grant Morrison é para fãs e não fãs

É SÉRIO!!!

O roteirista escocês Grant Morrison que já tem uma vasta folha corrida nas editoras Marvel e DC, agora trabalha exclusivamente para a DC, lugar, segundo ele em entrevistas, é onde lhe atrai mais em escrever pois gosta mais dos personagens icônicos, principalmente no que se refere à Era de Prata - época ímpar para a Distinta Concorrência, e é notório polemicista entre os fãs por escrever histórias originais, ainda que boa parte não tenha pé e nem cabeça, ou seja, excessivamente exageradas em suas referências (místicas, metafísica e tecnológica, sabe Deus que estimulante/liquidificador cerebral esse bicho toma) e símbolos.

Ano passado Grant, que é um dos mais prolíficos escritores da atualidade, escreveu em torno de quatro títulos mensais - além de ser do pelotão de frente das sagas intermináveis da DC, ao lado do incansável Geof Johns -, lançou pelo menos um dos melhores gibis seriados dos últimos anos, da linha "All Star", que se queixam os mais ranhetas, se tratar de uma disfarçada cópia da linha "Millenium" da Marvel - que apresenta novas origens de velhos personagens. No caso da "All Star" existe um equívoco para quem pensa dessa forma, essa linha da DC, na verdade, oferece liberdade total para os roteiristas e desenhistas, sem seguir propriamente uma cronologia, mas apresentando aventuras novas.

Na Marvel a "Millenium" tem a mesma característica, só que segue uma cronologia própria e angaria quase todos os personagens clássicos da Casa de Idéias (termo carinhoso para a Marvel - só para lembrar, EU SOU MARVETE, MARVELMANÍACO, etc).

Pois é, enquanto o enfant terrible Frank Miller assumiu o Batman, ao lado do desenhista pop star Jim Lee, Grant Morrison ficou com Superman, tendo a parceria do excepcional desenhista Frank Quitely.

Por incrível que pareça, Grant não exagerou na dose e nem criou simbologias e situações esdrúxulas (como fez e vem fazendo com a, pra mim, incompreensível maxissérie "Os Sete Soldados da Vitória") para o principal personagem da DC, mas realizou uma retomada do personagem com referencial clássico, em uma história simples, objetiva e transformando personagens-chaves do universo do kryptoniano - como Jimmy Olsen, Lex Luthor e Lois Lane - em peças importantes da estrutura a qual criou, com a premissa de que como o poder quase infinito do Super vem do Sol amarelo, com o passar dos anos ele acumulou tanta energia que acabou desenvolvendo uma espécie de câncer que o matará em menos de um ano, e a partir disso ele tem início a uma revolução à sua vida, como revelar a Lois a sua verdadeira identidade - é notável que na segunda revista ele a leve para a Fortaleza da Solidão e ainda assim ela acha que tudo não passa de uma grande brincadeira do Super.

O enfoque que Grant dá a cada um dos personagens é de uma candura permanente, onde quase tudo lembra aquelas histórias clássicas escritas por Julius Schwartz, com desenhos de Curt Swan.
Seguindo esse mote tudo, praticamente, funciona na série. A sua visão de Lex Luthor, o maior vilão, que acredita que tudo deu errado na vida e no mundo por culpa do Superman. Ou a visão satírica e quase megalômana de Jimmy Olsen, que ganha uma destacada coluna no matutino Planeta Diário e vira praticamente uma lenda do jornalismo contemporâneo. Mas é a visão do Superman e do mundo em que vive, da identidade que assumiu na Terra, de Clark Kent, da família que o criou, Jonathan e Marta, em conflito com ideais do bom moço que tudo faz pelo bem da humanidade e ainda assim é obrigado a conviver com as dores que a vida prega, envolvendo perda e martírio, que agrada aos olhos - além da arte envolvente e magistral de Quitely.
Grant Morrison planta referências, cria situações novas e transformar clichê em novidade. A sua visão pessoal do Superman deveria ser aquela que todos os fãs e escritores do personagem poderiam guardar pra sempre no baú da imortalidade. Particulamente, gostei muito, e olha que nem sou fã assim do Superman - na DC meu favorito ainda é o Batman.

Não por menos, a série "All Star Superman", de Morrison e Quitely, venceu o "Einer Award", na categoria de melhor revista seriada de 2006. O prêmio Eisner é considerado o "Oscar" dos quadrinhos, o maior prêmio para o segmento de revistas em quadrinhos.