domingo, 2 de maio de 2010

Popsex nº 2

Se não leu, para compreender, leia antes: Popsex nº 1

(Ante de ler, dê o PLAY)

Havia um cello no canto da sala. O som triste que saía das caixas de som que ficavam no canto da sala. Seu doce sorriso apareceu na janela do meu quarto e tentei entender a distância que me fez ficar longe de você.

Me ligou de madrugada e no seu primeiro “alô” perdi a voz de emoção. Cancioneta de violão, tudo é regrado e óbvio, como os sentimentos humanos tediosos que cerceiam o amor . E o cello no canto da sala ressoava suave a melodia que um dia nunca imaginei poder cantar a você.

- Oi.

- Oi.

(Silêncio instantâneo)

- Fala alguma coisa... (Pede ela)

- Eu...

- Sim.

- Eu to sentido muito a sua falta. (Abri minha guarda)

(Silêncio instantâneo do outro lado da linha)

- Eu também... (Um soluço quase imperceptível)

Para ele era tão bom ouvir a voz dela e saber que ainda está por aí, depois de semanas, meses de separação. Mas não esperava que o mesmo sentimento de amor ainda havia perdurado depois de tanto tempo. Não entendia a cura que haviam dito a ele sobre o tempo. Podia traçar no ar cada linha de seu rosto, sentir os seus cabelos, o mesmo perfume que o perturbou durante um bom tempo e ainda assim perceber que o tempo não fez nada para que ele a esquecesse.

- Como você tá? (Perguntei, tentando evitar a emoção)

- Eu... Bom... Eu to daquele jeito: simples e ainda traçando metas.

- Legal... Você era boa em traçar metas, lembro disso.

- Você lembra? (Outro soluço, mas ainda quase imperceptível)

- Lembro... Lembro sim.

- Que bom! Não fui apagada da sua... Memória.

- Não, imagina... (Suavizei ainda mais minha voz para ela) Nunca, nunca te esqueci.

Na primeira noite ela pegou a minha mão e me conduziu até a cama, não tirava os olhos dos meus e transmitia uma segurança que eu nunca havia visto em uma mulher. Sentei na beirada da cama e ela me beijou a testa, queria cuidar de mim. Deitei e ela então sentou em cima de mim, abrindo as pernas sobre o meu colo e montando. Arqueou para frente e nos beijamos freneticamente, eu podia sentir sua boca quente, úmida, entumescida esfregar na minha e senti uma emoção genuína. Estava todo arrepiado, abria os olhos para ver sua reação aos meus beijos e aos carinhos que fazia com as mãos, alisando suas costas e tocando seus cabelos lisos, perfumados e sedosos.

Ela se esfregava sobre o meu colo lentamente e eu partilhava sua sensualidade observando seu rosto lindo, brilhando, entregue, como podia ser tão linda, como podia criatura tão alva e meticulosamente desenhada por anjos estar comigo e ainda assim entregar com confiança sua intimidade? Não sabia, mas deixava viver, acontecer, não queria atenuar em nada esse momento, mas dar a ela minha entrega total em querer fazê-la feliz, desejada e possuída.

- Ainda é difícil pra mim, sabia? (Tentei explicar a ela)

- Pra mim também, mas eu queria falar com você, senti a sua falta... Hum... Fiz errado em ligar?

- Não, claro que não... Na verdade eu não sei, mas eu precisava ouvir você, saber como você estava.

- Parece tanto tempo... (Soluçou de forma mais nítida).

- Está sendo tanto tempo, são meses... Ainda sinto muito, muito mesmo pelo que ocorreu e chegamos a esse ponto, de verdade.

(Silêncio breve)

- Ei... Você ainda está aí? (Me assustei) Oi, por favor não desliga...

(Ouvi claramente outro soluço e então...)

- Eu te amo. (Disse ela, chorando)

Lembro ter chegado bêbado em casa, sem chão, procurando saber por que havia agido daquela forma com ela: bruto, possessivo, impondo minha autoridade sobre suas ações, com desconfiança, excesso de insegurança e ainda assim, cheio de razão, jogar toda a nossa relação para o alto por causa de uma cena de ciúme que a humilhou. A desprezei quando ela precisou do meu amor, destitui do seu pedestal de única para o mesmo nível de outras, comuns.

Em uma relação que oscilava muitos momentos íntegros e lindos com outros de imaturidade de ambas as partes, eu fui o causador do maior mal de todos.

Ela então me ligou e ainda na garagem a mandei se foder. Estava transtornado, mas ela insistiu e acabei por entregar a verdade que achava a sua ira, e pude então compreender que havíamos chegado a um ponto de ruptura que, talvez, definisse nossos rumos. Fui ainda bêbado, com o meu carro, até a sua casa. Era madrugada e o tempo estava frio, dando sinais de chuva.

A encontrei fora de casa, armada e magoada, muito mesmo. Ainda tonto, a olhava com certo receio, mas não deveria, pois se havia provocado tudo aquilo e por alguma razão achava que estava correto na atitude que tomei, porque então me sentia culpado?

Em poucas palavras e pela sinceridade da forma como me olhou, expressando toda a decepção comigo eu pude entender que no fundo ela tinha razão.

Não esperei desenrolar mais nada que pudesse prosseguir aquela agonia, estava arrependido, mas sabia que tinha cruzado uma linha muito perigosa. Pra ser sincero, por um momento perdi a puerilidade do momento e chutei tudo para o alto, se tivesse que agir para que ela entendesse que apesar de tudo a minha vida ainda era parte da dela, ali, naquele exato momento eu tinha que fazer o impossível.

Coloquei uma de nossas canções e deixei as portas do meu carro abertas, caiu então a chuva, interrompi tudo e fui abraçá-la sob a águas da chuva, ela me levou para trás do muro da sua casa e pude entender que não era reconciliação, era um último momento, uma entrega de carinho e sexo para completar um ciclo, o seu ciclo, o meu ciclo. Era loucura de duas pessoas carentes que buscavam a redenção no amor ou apenas o óbvio tedioso da vida que adoramos complicar?

Não saberia responder, muito menos ela. Mas, fizemos amor em pé, debaixo da chuva, em desespero, entrega e raiva. Os beijos eram firmes, mas sem a candura de antes, era entrega e despedida, tudo forte, intenso. Ainda não consigo lembrar como encerramos aquela madrugada. Eu sei que tudo acabou, ela apenas me olhou, séria, nada disse. Fiquei calado, me ajeitei e esperava, talvez, uma voz dela que me dissesse: “desculpo”.

Nada disso, ela apenas olhou para o portão da sua casa. Eu compreendi que tinha que ir embora. Ela, ainda calada, me olhou tão firme e decidida, como uma navalha afiada cortando a minha carne. Sai devagar, caminhei até o carro e ainda olhei para ela através do portão gradeado. Ela ficou impassível, sem lágrimas, sem sorriso, sem rendição. Apenas gotas de chuva sobre o seu rosto, os cabelos molhados, escorridos sobre os ombros. Não havia mais a poesia que me encantava aos ver os seus olhos sobre os meus, apenas um vazio.

Entrei no carro e parti.

Havia um cello no canto da sala da minha casa. O som era suave, mas amargo, a voz era dissonante diante da minha saudade, mas pura no que eu sentia.

- Não chore... Ei... Faz tempo.

- Não era para estar sentindo isso por você, não... É tão doloroso.

(Silêncio)

- Não posso dizer que sinto o mesmo, mas sinto falta de você.

- Quanto mais tempo teremos para suportar isso?

- Não imagino... (disse, emocionado com a entrega dela, chorosa)

- Estou tão longe e você tão perto de mim, dentro de mim...

(Fechei os olhos e não queria acreditar que podia reviver tudo)

- Não sei se o tempo vai curar, se a distância vai nos manter tão longe assim do que sinto ainda por você, mas eu... (soluça)... Eu só queria te dizer que, se acontecer de você não sentir mais nada por mim, nada mesmo, quero que seja meu amigo...

- Sempre serei seu amigo... Sempre... Deixa como está. Eu entendo tanto você agora... Nas primeiras semanas em que foi embora amarguei uma solidão tão grande... Triste.

- Eu sei. (Disse ela suave, quase sussurrando)

- Passei semanas passando pelos lugares que frequentávamos antes. O mirante, aquele restaurante, a pizzaria, os pubs, até mesmo as canções que ouvíamos juntos parecia uma dor que comprimia o meu peito. Todas as lembranças, foi e está sendo difícil. Eu entendo você.

- Está acabando né?

- Quem sabe? Vamos viver a cada dia e ter as nossas melhores lembranças, mas sem dor.

- Você mudou, sabia? O modo como está dizendo essas coisas para mim.

- Eu não quero magoá-la...

- Não, não é isso. Você mudou para melhor, me parece mais maduro.

- Você me fez ficar assim... (Senti um nó na garganta) Por isso eu digo que sempre seremos amigos.

- Obrigada.

(Me silenciei e dei um sorriso emocionado)

- Não tem como...

- Vou desligar.

- Tudo bem, foi muito bom te ouvir depois desse tempo todo.

- Também.

(Ficamos em silêncio, pontuados pelas respirações )

- Te cuida, tá? (Pediu ela)

- Você também, te cuida.

- Tchau!

- Tchau!

(Ainda ficamos alguns segundos segurando os fones)

Por fim, com cuidado, coloquei o fone no gancho e senti um descompasso no meu coração. Havíamos dado o passo definitivo.