terça-feira, 27 de abril de 2010

Popsex nº 01



(Antes de ler, dê o PLAY)


Cheguei bêbado em casa... Encostei o carro na garagem e ainda tonto tentei equilibrar o raciocínio com a lógica da música que soava na minha cabeça. Respirei fundo e o celular tocou. Ainda estava zonzo com a última briga que tivemos. O brilho da tela do smart penetrou fundo na minha retina e vi o seu rosto em meio a nuvens.

EU - Oi.
A VOZ - Ainda não acabamos sabia?
EU - Quem?
A VOZ - Foda-se!
EU - Ok, acolho, eu sempre me fodo mesmo!
A VOZ - Que é? Vai posar de coitadinho?
EU - Não, então foda-se você.

Desliguei. Na minha mente lembrei de Kid Foguete, um personagem fuleiro de um dos contos maravilhosos de Charles Bukowski. Numa noite, precisando de grana, ele entra num frigorífico e pede emprego, pois precisa de grana. Praticamente se fode por fazer aquilo que não quer, mas necessita. Sou como Kid Foguete, me fodo com ela, por fazer aquilo que necessito. Não, não é sexo. É amor mesmo! Por que estou bêbado? Porque percebi que acabei de me foder por amá-la e ela nem aí.

Não consigo sair do carro, além da dormência no corpo fico pensando o que deveria ter feito para evitar ter chegado no ponto que chegou. A música, o som desatina as minhas ações antes calculadas, frias... e a porra do celular toca novamente.

"Atendo ou não atendo?" - Penso.

O toque perdura e olho compenetrado (pelo menos eu tento)para o visor brilhante.

"Foda-se"

EU - Oi.
A VOZ - Você é um idiota completo.
EU - Seiii... Mas, por que?
A VOZ - Mandando me foder, sendo que você é que merece...
EU - (Interrompendo) Quando a gente vai parar com isso?
A VOZ - Você provoca como quer que eu reaja?
EU - Não fiz nada... Droga... Olha, tô bêbado e sem condição nenhuma de prosseguir a discussão.
A VOZ - Ainda saiu para beber depois que discutimos? Você é tão fraco assim?

"Puta que o pariu, será que a amo tanto para aguentar isso?" - Penso.

EU - Não quero mais prosseguir com essa discussão...
A VOZ - Tô cansada, muito...

(Pausa breve... Respiração alta no dois lados da linha)

EU - E aí?
A VOZ - Você tá onde?
EU - Na garagem de casa, sem coragem de sair do carro, pensando um monte de merda.
A VOZ - Hummm... Seu idiota, porque não consigo ficar longe de você?
EU - E...
A VOZ - Tem condições de dirigir até aqui?
EU - Não sei, tô um pouco tonto, mas não tem risco...
A VOZ - Não, deixa pra amanhã, precisamos esfriar a cabeça.

(Me calo por alguns segundos)

EU - Tô indo aí, me espera.

Desliguei o celular, nem tirei o cinto de segurança, acionei a ignição e sai. Voltei para a rua e o ar-condicionado estava congelando no interior do carro. Mas achava um alívio.

Tomei a "Boulevard Street 05" e fui devagar. Divaguei então sobre as ondas de referências que me puseram na enrascada de me envolver tão intensamente com ela.

-

Um dia estou numa bookstore com uma pilha de livros para escolher o que levar, entre eles um sobre redes sociais e mídia interativa na internet. Era o único exemplar. Carrego o livro comigo e percebo uma moça linda ao meu lado me olhando sem graça. Não ligo muito, não ofereço perigo mesmo. Volto minha atenção para uma edição encadernada de Sandman, de Neil Gaiman, junto a outros dois livros e caminho até o balcão do caixa. Então aquela moça linda se aproxima e pega o meu braço.
- Oi, olha me desculpe, não sei como falar.
- Sim, pois não.
- Chato isso, mas eu preciso falar.

(Fiquei curioso, o que uma criatura linda poderia querer comigo?)

- Eu percebi que você está com um exemplar do livro de redes sociais e mídia interativa.
- Sim, esse aqui. - Mostro o livro.
- Pois é, esse mesmo. É que... Bom, é o único exemplar que tem disponível aqui e... (Sem graça)... Nossa, tô nervosa.
- (Tentei acalmar) O que foi? Pode falar, não mordo não. (Ri para quebrar o gelo).
- Eu vou fazer um trabalho na faculdade e precisava desse livro. Meu Deus, desculpa.

(Eu queria rir do jeito dela)

- Tá certo... Olha, esse exemplar eu encomendei, mas a gente pode discutir o destino dele.

(Ela me olhou intrigada)

- Como assim?
- Vamos lanchar juntos e discutimos se dou ou não para você esse exemplar.
- Hãm!!!
- Ei, preocupa não, sou uma boa companhia e você tenta me convencer porque eu devo ceder esse livro para você, pode ser?

(Ela ficou desconcertada, mas...)

- Me deixou sem graça, mas aceito a proposta sim.
- Tá valendo então.

Paguei o livro e saímos juntos da livraria. Foi o nosso primeiro passo.

-

Entrei na rua da sua casa e a vi logo, parada em frente a garagem fechada. Ela estava com os braços cruzados, com cara de irritada. Eu estava feroz, com vontade de chutar a barraca inteira mesmo. Parei o carro. Ela ficou me olhando e suspirei alto quando a vi ali do meu lado. Sai do carro. Me aproximei dela com cuidado, ainda tonto, o meu cabelo estava grande e balançava com a brisa fria. Ela não mudou um milímetro da sua posição e com os cantos dos olhos me mirou até me aproximar por inteiro.

Suspirei fundo e nos encaramos. Os olhos estavam borrados pelo rímel, como tivesse chorando, podia ver as faces extremamente rosadas, o nariz um pouco inchado e ela mordia os lábios. Convalesci diante da sua verocidade, mas tão atenuada pelo abatimento, com um certo torpor emocional.

ELA - Não devíamos mais no ver, sabia?

Falou, quase murmurando, com a voz embargada.

ELA - Quero dominar a situação e não ser dominada, isso nunca me aconteceu.

EU - Não fiz nada de que me arrependesse é a única coisa que posso dizer. Eu tô dependente de você, tô carente de você e não queria ser ignorado, só isso...

ELA - Seu idiota!!! Ciúme bobo, eu devia mandar você de volta pra sua casa... Não havia necessidade de me humilhar na frente dos meus amigos, posar de machão e dizer que eu sou sua e de ninguém mais, sendo que já provei tanto à você.

EU - Não me acostumei à isso. É tudo novo, eu já te falei, eu te falei. Fui bruto, porque sou bruto... Ver você tão solta, sendo que pelo menos dois caras ali você já tinha ficado.

ELA - Foda-se!!! Eu estou com você, não mais com eles. É difícil entender isso porra!!!

Me calei. Olhei para os meus tênis, funguei o meu nariz e senti o vento ficar mais frio. Balancei a cabeça e me censurei por ter agido tão mal. No fundo eu sabia que ela tinha razão. Ela provou que me amava no quarto passo, na frente de uma delicatesse.

-

Saímos do estabelecimento e nos dirigimos até o estacionamento. Tava escuro e ficamos sorrindo um para o outro. Ela encostou no meu carro de frente pra mim e me olhou de uma forma mais atrativa.

- O que faz? - Perguntei.
- Quase nada, só curiosa. - Disse.
- Curiosa com o que?
- Como viemos parar aqui, olhando assim um para o outro e imaginando o que fazer.
- Ah, sinceramente?
- Sim.
- Ok, apenas nos conhecemos de maneira inesperada, falamos longamente de assuntos que nos interessa, temos algumas coisas em comum, você ganhou um livro que era quase meu, gosto de você... e... Humm...
- Sim, tem mais?
- Me ajuda que acho que tem. - Provoquei.

Ela me olhou tão próxima, abriu os lábios e senti o convite. Encostei minha boca na sua e nos entregamos num beijo chupado e espetacular. Devorando língua e dentes. Trouxe próxima ao meu corpo e alisei suas costas. Nos entregamos a beijos gulosos e pude sentir seu calor fluir no meu corpo. Há tempos não tinha esse tipo de apuro de pele.

-

Finalmente ela se desarmou, deixou os braços cair e virou de costas pra mim. Seus cabelos estavam soltos e esvoaçavam ao vento. Olhei para o céu da madrugada e as nuvens estavam pesadas, iria chover a qualquer momento. Seria a noite perfeita para uma despedida definitiva. Com corações partidos, choros, gritos e todo o drama possível que um amor sem freio precisa.

"Tudo isso é uma grande besteira", pensei.

Tirei a pecha triste do meu seblante, fui até o carro, abri as portas, liguei o som dele e dei play na minha trilha favorita. "So here, we are", Bloc Party. Deixei o som na altura média. Ela parou de caminhar, virou o rosto de lado e reconheceu a melodia. Voltei minha atenção para ela. Me aproximei.

EU - Já que vai terminar tudo mesmo, ao menos me dê o direito de lhe dar a despedida que sempre quis dar para uma mulher.

Ela se virou para mim.

EU - É tudo tão simples, tão mais fácil e complicamos tudo. Eu sei que foi culpa minha. Mas deixa eu ao menos fazer pela última vez aquilo que sempre quis fazer se me encontrasse num momento como esse, tão fudido com uma mulher que ainda amo muito.

Ela me fitou, olhando nos meus olhos e via claramente a sua incredulidade.

ELA - O que pensa que está fazendo? Quem você acha que é? Deus?

EU - Não, sou apenas alguém que fez uma besteira e que sabendo que não vai ter volta precisa fazer algo que ao menos amenize...

Me aproximei rapidamente e cheguei perto dela. Ela tentou num impulso se afastar e segurei um dos seus braços, sem força, apenas com a medida de não impedi-la de fugir de mim.

ELA - O que pensa que vai fazer...

Antes que concluísse colei o meu corpo no dela e encaramos olhos nos olhos. Ela deixou um brilho passar para a minha retina e a música atingiu o ápice. Colei minha boca na dela, os primeiros pingos da chuva começaram a cair.

Ela permaneceu imóvel e articulei meus lábios no dela, que não resistiram e se abriram para mim. Começou devagar, comprimindo carne com carne, ódio se misturou a paixão e tudo parecia um sinal de impetuosidade sagaz, destruidora, devassa. A chuva caiu sobre a cidade e ela comprimiu minha boca e abriu os olhos.

ELA - O seu carro está com as portas abertas.

EU - Foda-se. (Continuando a beijá-la).

ELA - Não, vamos para dentro feche o seu carro.

Corri no meio da chuva, fechei o carro e voltei até ela.

ELA - Sem abrigo, só nós dois.

Nos agarramos de novo. Estávamos encharcados e o tempo era vazio, vago, dissimulado e bom o suficiente para nos deixar únicos.

Ficamos no canto do muro da sua casa e na contraluz da luminária do poste o rajar do brilho da chuva, como poesia visceral. Beijamos intensamente, e machucamos nossas bocas e pele. Ela arrancou minha blusa e abri sua camisa. Ela mordeu meu pescoço e colhi carinho em seus seios. Desci minhas mãos pela suas costas e ela cravou uma das suas mãos no meu membro, sobre a calça.

CONTINUA...