quarta-feira, 28 de maio de 2008

Inadmissível diante de uma tragédia...

Eu li uma matéria no portal de notícias da Globo, o G1, que me deixou de estômago embrulhado - sem frescura nenhuma. Antes, veja essas fotos da tragédia que assolou a China, no último dia 12 de maio, quando 45 milhões de pessoas foram afetadas pelo abalo sísmico de 7,9 graus, que teve o seu epicentro na província de Sichuan e acabou resultando em 88.000 vítimas, entre mortos e desaparecidos.













A revista "The New Travel Weely" fez um editorial de moda que extrapolou os limites do bom senso, colocando modelos com roupas sensuais e em poses do mesmo naipe nos escombros do terremoto. A revista foi lançada no dia 18 de maio, ou seja, quase uma semana depois da tragédia. Agora eu imagino como faz um ensaio fotográfico em meio ao caos que até hoje permanece na China. Que tipo de gente tem uma idéia "brilhante" como essa em utilizar uma tragédia dessa magnitude como pano de fundo de um editorial de moda? Tem que ter muita merda na cabeça e um coração desumano.

Avalie a situação de que são várias modelos em lingerie com bandagens ensangüentadas envoltas em algumas partes do corpo no meio dos prédios destruídos e ruínas, causados pelo terremoto. Não existe racionalidade humana que explique tal desatino.

Essa é a foto de abertura do editorial de moda:



Na época em que foram feitas as fotos a contagem de corpos era crescente e havia o desespero de milhares de pessoas em busca de amigos e familiares.


Segundo o G1 a revista chegou às bancas no dia 18 de maio, uma segunda-feira, coincidindo com o primeiro dos três dias de luto oficial pelos mortos do terremoto, e estava em circulação na cidade de Chongqing, que é uma província vizinha a Shichuan (a área que mais sofreu com o abalo sismíco).


A conseqüência óbvia era o fechamento da publicação por parte do departamento responsável na supervisão da imprensa, que presta conta ao governo de Chongqing, em vista até das manifestações da opinião pública, revoltada com o abuso. Que me perdoem os patrulhadores ideológicos de veneta, mas não é nem uma questão de liberdade editorial, a questão é RESPEITO.


Como bem descrito pelas autoridades, a "The New Travel Weely" violou severamente a "disciplina de propaganda" e batia de frente com a "moral social". Eu ignoro que as fotografias "tinham uma influência extremamente má na sociedade", como foi classificado pelo departamento, pois o negócio é imoral no conceito da má intenção e no absurdo da deflagração das imagens durante o caos. Altamente condenável.


O interessante é que a revista colocou uma nota no site institucional se desculpando pela gafe. "Gafe"????? Que "Gafe"? Foi um terrível erro de perspectiva social, emocional e editorial. Um desastre tão devastador quanto o próprio terremoto.


Na matéria veiculada no G1 esclarece que a empresa que administra a publicação demitiu o diretor, o editor-chefe e o vice-editor chefe, apontados como responsáveis pela "brilhante idéia" de aproveitar o momento da tragédia e serem "ousados" suficientes para publicar um material de alto impacto - na busca da catarse coletiva. Definitivamente conseguiram. Vergonhoso.

Confira um vídeo sobre a tragédia:

Fotos disponibilizadas da Associated Press e Reuters.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Relação e sardas - Tomo II


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Havia sombra nos olhares furtivos que trocávamos em momentos de tensão. Soube chegar de mansinho e acariciar meu cabelo, ondulando os dedos em uma das minha têmporas. Sorriu com delicadeza e deixou sobressair um desejo de colo. Não poderíamos, de fato, ficar sós.

Sob a tez branca e sardenta desci os meus lábios, amaciei a sua nuca e ela respondeu com o corpo. Nos abraçamos e demos um tempo ao tempo.

Comunhão íntima, intríseca, macomunada com um pouco de redenção e muito de tesão. Colocamos as mãos entre si, enquanto nos encontrava como há vinte anos. Havia felicidade e sorrisos, beijos longos e olhares cândidos, a nossa trilha sonora sempre auvidava em nossas memórias com o soar gradual dos filmes românticos.

Corpos nus, olho no olho, a respiração compassada e um balé de reações químicas, com o calor e o suor.

Ela fazia dengo e eu lhe acariciava os ombros, sob a vista das sardas linda, que tomavam suas costas, com os cabelos caindo entre os meus dedos.

Pouco depois estávamos os dois abraçados, olhandos os filhos sobre as camas, dormindo como anjos. Havia ainda uma magia que insistia em não interromper e um vasto caminho de provações a surgir.

O muro que nos apontava um fim súbito, caía, tijolo-a-tijolo, e tínhamos forças para pertencer um ao outro, sem remorsos e dores.

A vida continua pregando peças e eu só tenho a aprender. Sorrio para ela quando vejo chegar, e brinco com os olhos quando a vejo partir e ela de soslaio faz um charme com a cabeça, pois sabe que estou vendo.

Ainda estamos juntos e únicos.