quarta-feira, 8 de abril de 2009

BBB 9 – Microcosmo das relações humanas


Já me condenaram por assistir o Big Brother Brasil e, de fato, nunca alterei meu comportamento ou me retraí por causa das reprimendas das cabeças ditas pensantes que odeiam o programa da Endemol, que faz um sucesso enorme na Rede Globo. Acompanhei todas as edições anteriores e teria muito que escrever sobre o fascínio que a fórmula exerce sobre os telespectadores (que gostam, alguns por diversão, outros por curiosidade e poucos por fascínio de pesquisa). O programa é uma atração voyerista sobre a vida, as relações e o convívio, mostrando um painel sucinto, ainda que não menos intenso, sobre a vida real. O confinamento é um retrato cruel e prazeroso, num paradoxo que reúne conforto, luxo e prazer com as corruptelas do ser humano causadas pelo convívio e as relações – sejam elas ruins ou boas. Diante disso é um microcosmo da vida real, ainda que em condições muito especial.


A vitória de Max Porto no BBB 9 foi espetacular e digo isso diante do que foi exibido. A edição desse ano foi de longe a mais radical, com mais alternativas de mudanças em regras (se é que existe uma constância para elas) no que ocorreu nos anos anteriores, exigindo muito do psicológico de cada participante (foram 18 esse ano, tirando a participação insossa do angolano Rico) e favorecendo aquele que entrou como jogador e manteve um equilíbrio fantástico sobre todo o decorrer dos noventa dias que o programa exigiu. Max entrou como jogador e nunca escondeu isso, mas quase caiu em desgraça por causa de uma paixão por Francine, que com muito custo formou o casal, que brigava e voltava, estabelecendo momentos de alternância afetiva causada mais pelo possessividade de Fran, uma ciumenta nata. Foi um romance que dividiu a opinião dos amigos e desafetos, alguns não acreditavam na intenção de Max e outros acreditavam que o casal era dissimulado em sua relação, nem um e nem outro, como se provou na reta final.

Acompanhar toda a trajetória do BBB 9 pelo Pay Per View da Sky foi mais divertido, pois era possível fugir dos esquemas de edição promovida pela Globo e acompanhar de fato o desenrolar das tramas que ocorriam dentro da casa, sem favorecer um ou outro participante. Foi possível definir que na vida real como retrato da exposição, o que condiz as relações humanas são dois fatores básicos e intrínsecos: o convívio e a eventualidade.

Quando se conhece uma pessoa e gostamos dela, estabelecendo um vínculo de amizade real, a acompanhamos em eventos, como encontros, passeios e festas. Ou seja, são eventualidades próximas que demonstram momentos de prazer e que os problemas de personalidade de cada um não são apresentados em sua totalidade, são contidos, claro, como uma defesa para estabelecer uma harmonia na relação tão prazerosa.

Porém depois de um tempo cria-se um vínculo mais sério com essa pessoa e passamos a morar com ela, tornando o que era antes, apenas eventualidade, em convivência, aí tudo muda, pois aprendemos a conhecer melhor a pessoa, com seus defeitos e qualidade, que se afloram no dia dia, e disso estabelecemos o verdadeiro sentimento da amizade e – para outros – do amor. A tolerância nesse caso depende de cada um, assim como a paciência e o senso de humor de relevar atitudes e corruptelas que, às vezes, desaprovamos na pessoa que estamos convivendo, mas que em outros tempos – os de eventualidades – nos parecia passageiro e até peculiar.

Por isso eventualidade e convívio são peças importantes do jogo da vida. O BBB é didático quanto a isso, é um parâmetro linear dentro de um microcosmo onde se discute a natureza humana diante de sua relação. É um laboratório da vida.

Não poderia deixar de vislumbrar as possibilidade e discutir com pessoas próximas os passos tomados pelos participantes, principalmente daqueles que mais simpatizamos e torcemos. Não tenho vergonha e nem considero o meu intelecto menor por gostar do programa. Pois eu tenho uma visão periférica do ser humano que ainda busco compreender, e o BBB é uma possibilidade de estudo e, o que é melhor, com diversão.

Não dá para eu deixar de registrar que diante dos meus cálculos como visionário e crítico do BBB minhas apostas sobre Max Porto, o vencedor, estavam corretas. Ao derrotar a forte participante Ana Carolina – a mulher com casca de menina, segundo o Pedro Bial – que tinha ido a seis paredões antes de enfrentá-lo, Max praticamente definiu a tendência dessa edição, onde o jogador, estrategista, conseguiu sobrepor os seus próprios limites, vencendo barreiras do convívio e emendou um romance problemático, mas que encontrou na catarse da reta final a sua soberana entrega ao fascínio da brejeirice moleca de Francine, a mulher que definiu o casal “Benhê” e formou o par mais intenso de todas as edições.

Como espectador de TV, devo parabenizar pelo seu Big Boss, Boninho pela lapidação em que ele preparou e conduziu o programa nessa nona edição. A divisão dos lados A e B (cada um com sete componentes da casa) foi uma decisão arriscada, mas precisa e inteligente. Colocar dois participantes com mais de 60 anos foi um achado genial – que o diga a relação passional e afetiva de Naiá e Ana -. Pena que o velho Noberto não resistiu a pressão do confinamento, ainda assim ele foi uma peça muito importante na primeira semana do programa, quando o muro que separava os lados ainda se mantinha em pé – ele foi o primeiro líder. O paredão triplo que assustou muita gente, o que falar do temível “quarto branco” e o Big Fone “do mal”, que modificou o destino de alguns componentes e proporcionou fortes emoções no decorrer do jogo? Foram ingredientes que tornaram essa edição mais apimentada e levou ao limite os participantes – computa-se pelo menos quatro “barracos” geniais, à saber: Tom e Ana, vovó Naiá e o cowboy André, Milena e Ralf (numa cena clássica de ciúme e bebedeira) e Francine e Maíra.

Sobre o programa final, encerrado na terça-feira (07), ver os três finalistas, integrantes do Lado B: Fran, Max e Priscila, foi consolidar as pessoas mais íntegras da casa para uma final não tão inesperada, mas justa. Notável perceber que as edições do Big Brother Brasil que mais surpreendem os fãs e curiosos - até mesmo por ter jogadores mais interessantes, com personalidades mais atraentes - são os de número ímpar, para não fugir a regra, o BBB 9 foi incrível, se não muito o melhor de todos já realizado, apesar de tido a pior audiência em relação às outras edições. Ano que vem tem mais, porém se seguir a escrita não vai chegar nem perto dessa edição.

A VITÓRIA



MAXINE - O CASAL BENHÊ DO BBB 9