sexta-feira, 24 de julho de 2009

O estrangeiro em campo minado

Solidez apática e um triste sorriso de queda no rosto sujo da criança. A cidade caminha a passos ligeiros rumo ao abismo do inevitável caos. Me sinto estrangeiro em Porto Velho, cidade que moro desde os três anos de idade, quando meu pai me trouxe do interior frio e pacato de São Paulo para a promissora e quente capital de Rondônia.

Ventos abafados, calças largas, o cheiro da mata, tudo cheirando a naftalina e pano velho. A arquitetura rústica dos interiores ingleses, herança européia do imigrantes que construíram e mantiveram a velha (e falida) Estrada de Ferro Madeira Mamoré.

Ainda acho que a solidez da cidade que crescia de forma desordenada nos meus primeiros anos de menino, hoje, homem feito, com família constituída - casado e com dois filhos - se agravou em sua busca meteórica de crescimento econômico. O caos é social, mas de ordem administrativa, gerenciada por uma cambada de gestores municipais que não consegue, à contento, dirimir uma coerência mínima que seja para efetuar as benesses estruturais que Porto Velho necessita.

É como caminhar sobre um campo minado em plena Amazônia. Como jornalista reporto o cotidiano dessa cidade com ardor e força nos punhos, pois é uma situação contraditória do que funciona e não funciona. Violência, morte, acidentes de trânsito, doenças, falta de saneamento básico, falta de estrutura física e humana nas unidades de saúde. Porto Velho cresce desordenamente a pleno vapor.

Caros e caras, estamos no exercício pleno da democracia, da luta pelos direitos sociais e econômicos, e com o "boom" que ocorre em Porto Velho, com a construção das Usinas, o crescimento do setor imobiliário e a vinda de grandes fábricas (cimento, couro e alimentação) é tudo tão ordenadamente caótico, que suspeito que o ingerenciamento para que a formalização e constituição das empresas que aqui agora devem vigorar nesse crescimento propalado, seja real e fora do monitoramento necessário dos vigilantes dos poderes públicos.

Mas a apatia tem justificativa e seu preço a peso de ouro, o que muitos podem considerar mera formalidade no crescimento da capital, eu chamo de descaso com o bem público e com a população.

Diante de tanta imperícia administrativa e sub-aproveitamento das denúncias de improbidade administrativa, desordem social e de engenharia de tráfego (que a cidade não possui), me sinto um estrangeiro em campo minado. E olha que a bandeira é a mesma de todos e o hino que cantamos é o mesmo: "Céus de Rondônia".

Uma pena, mas tudo é caos.