terça-feira, 25 de novembro de 2008

Seu sorriso, um coração de desejo...



Não havia medo por trás daquele rosto comprimido contra o travesseiro. Os olhos fechados e o pensamento envolto no sorriso tão sincero. Ela regurgitou seus pensamentos e não quis fugir do destino fácil de não estar assim tão só. Ele persistia, os lábios abertos, com o sorriso que parecia que aguardava já há algum tempo. Ela nada dizia, mas sentia no íntimo que havia algo provocando sua intimidade e chamando sua atenção.

Ainda encanto. No seu canto de pensamento, deitada, sobre a meia luz de seu abajur, ela se deixou levar por suas palavras. Não havia promessas, mas compreensão e dedicação em ouvi-las. 

Não havia lágrimas ou falsos risos. Uma tez retessada pela expectativa do carinho que sempre aguardou, ou ainda o hálito quente de menta que invadia suas narinas, deixando um ar limpo em sua volta. Tão necessário, tão bom. Podia macular seus pensamentos e conduzi-los por caminhos onde antes nunca havia andando, ainda assim parecia tão pouco diante da vida que queria almejar para a sua felicidade.

De imagens nítidas, sons audíveis como romance secreto. Uma música suave... Um copo de vinho... A nudez comprimida no ar, envolta em uma dança de sonhos e encantos. Parecia tão distante, mas também tão próximo. Os gestos delicados, mas ao mesmo tempo bruscos, e tudo parecia absolutamente normal, como poesia em noite de lua cheia.

Algo tão doce, terno, desnudo em uma selvageria controlada, seduzida, espontânea e linda, como é ela.

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Ele era eu... Ela era você... Havia nós, um mundo de descobertas, um desejo contido... Um pecado riscado em nossos cadernos, ainda que os lábios comprimam a cada chamada, cada toque, cada suspiro... e teu corpo junto ao meu... em dança lenta, sob a fluidez da brisa morna de uma noite muito quente.

Havia o branco de sua pele, os cabelos escapando de minhas mãos, próximos da tua nuca... A maciez, o perfume e tanto o que sentir ainda com os olhos cerrados, na viagem que parece eterna de um sonho sem fim. Só eu, você, o tempo estagnado e a descoberta de que nunca é tarde para se ter uma amizade tão próxima, quente, pura em pecado, saliente em desejo, diluta em fibra madura, como corpos celestes numa explosão de energia e vibração.

A vida tem dessas surpresas... O coração não prepara terreno para o inesperado... E nem sempre o que podemos enxergar seja de fato a realidade. É tudo uma questão de pele, da minha na sua, de nossos signos combinarem... De olhos tão próximos, furtivos, evitando encarar para que as faíscas não firam outros em nossa volta.

Ainda assim eu fico com o seu sorriso, tão juvenil. Ainda assim fico admirado com o seu coração, tão similar ao meu, e, enfim... Nem tudo é o que parece, mas no fundo, sinto que nossas vidas se entrelaçam num encontro almejado há tempos, como o destino um dia nunca previu, mas sempre esteve à nossa frente. 

Eu, você; um nós, um tudo, um mundo novo, inteiro, nosso, a descobrir, preservar e amar. 
Afinal, sabemos que apesar do atraso, fazemos parte da vida de um e de outro...

Sempre juntos...