quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Na noite...

Embarco no carro e dois amigos já me empurram uma garrafa com concentrado de Agave Azul da marca El Jimador. Na primeira talagada eu já sinto o ardor na traquéia e depois o incêndio no meu estômago. Mas deixo de lado, minha excitação tá alta e brindamos à noite.

É uma madrugada de sábado e aportamos no Informal, Pub da rua Brasília, que tem alta concentração de "bonecas" (gíria de amigos para as emergentes garotas da sociedade que fazem pose nos balcões, com aquele ar de "eu posso e quero que se foda") e gente boa praça, ainda que vez ou outra eu me depare com algumas senhoras da libertinagem. Uma delas, que eu vou chamar de Tetê, que havia dito ter 44 anos, apesar de aparentar bem menos, se aproximou do meu amigo Cleberson, perguntou se não pagaria uma bebida pra ela. Ele desconversou, com aquele ar tonto que carrega, típico de quem tá afim de "carne nova" e deu as costas à ela.

Percebi que a senhora ficou chateada e ao mesmo tempo conformada. Estava tomando a metade da minha caipirinha de Vodca e a mirei com precisão, avaliando se a dita senhora tinha munição para abordagens precisas de pré-acasalamento.

Baixa, longos cabelos castanhos claros, lisos, um vestido vermelho curto, salto alto da mesma cor, cintura pequena, quadris largos, seios pequenos, mas bem seguros e empinados por um daqueles maravilhosos sutiãs milagrosos que deixam tudo em pé. Orosto era suave, apesar da maquiagem um tanto pesada, mas transparecia uma beleza incomum, pois tinha os lábios finos, nariz afilado e olhos siamescos, mas que me perturbavam, pois deixava transparecer que usava lentes verdes.

Era uma mulher bonita, com um padrão acima da média dessas "senhoras de fino trato" que encontramos pela noite. Mas, claro, perto das mulheres, ou garotas saindo da puberdade que freqüentavam o bar ela parecia comum, translúcida, de uma presença banal e sem artifícios muito eficientes para concorrer com algumas moçoilas mais encorpadas. E olha que nessa noite tinha muita "cavala" – ok, me perdoem as meninas que lêem o meu blog, mas é outra gíria, que equivale (ai, ai, vou ser xingado agora pelas mais puritanas) a mulher "gostosa", no real sentido da palavra).

Enfim, olhei aquela "senhora" e fiquei admirando-a por alguns minutos, foi quando chegou um garotão, playboy, do tipo que anda com um celular na mão o tempo todo e usa óculos escuro em cima da cabeça, até na noite, pra parecer pintoso (acho que é isso, para não rebaixá-lo a um narcisismo neural sem cura), com duas "cavalas", uma em cada braço.

Ele se aproximou de Tetê como já a conhecesse, ela se insinuou pra ele e o carinha apenas jogou algumas notas de dez reais dentro da bolsa dela, enquanto as "amigas" dele riam entre cochichos, observando a cena.

Vi tudo de longe e apesar de não ter entendido nada – acho que sou inocente nessas celeumas entre putas e clientes -, fiquei admirado. Ela ameaçou sair do local e ficou parada na porta do bar, com seu belo vestido vermelho. O segurança da casa a observou e cochichou algo no seu ouvido. Com certeza, "melhor você ir embora".

Tomei uma talagada violenta da caipirinha e engoli meia banda de limão, quase engasguei. Geraldinho, meu outro amigo olhou pra mim e começou a rir.

"Eita, viu alguém em especial?"

Acenei que sim e já parti pra fora do bar, capengando ridiculamente entre as pessoas. Que bosta! Duas doses de tequila e uma caipirinha e pareço um pião de roda sem direção. Passo pela porta e encontro a senhora bem ao meu lado, ela me olha e vira o rosto me ignorando. Deve pensar que sou outro que vai lhe dar às costas.

Respiro fundo e pego no seu braço.

"Oi" – Como sou horrível nessas abordagens, "oi?????" – onde você vai arranjar mulher com um "oi"??? – Grita o "meu id safado" pra mim.

Ela olhou para minha mão segurando o seu braço e depois me encarou, ficou me olhando séria e deu uma leve fungada no nariz.

"Olha eu tive uma noite horrível, ok. Se for outra sacanagem...."

Interrompi.

"Que sacanagem, eu nem te conheço, eu achei você uma mulher interessante e vim atrás, só isso."

Ela parou de falar e ficou me olhando desconfiada.

"Ah, olha cara, eu não tenho tempo pra isso..."

Vi, que não ia resolver ficar explicando algo de que nem eu sei pra ela e já lasquei a "botina na porta".

"Gostei de você... Só isso, não pode?"

Ela então ficou me encarando por alguns instantes calada.

"Tá a fim de sair daqui e dar uma volta?", perguntei.

Ela ficou me olhando não acreditando no que tinha falado e apenas balançou a cabeça positivamente.

"Ok, deixa só eu dar um telefonema."

Falei com o Geraldinho para me emprestar o carro por algumas duas horas (é assim mesmo, algumas duas horas), e ele, ainda que relutante, deu parecer positivo. Veio até a porta e me olhou com uma cara de sacana e jogou a chave do seu Pálio em minhas mãos.

"Vê se não demora bicho!"

Nada falei e já fui chegando na "dama de vermelho".

"Vamos, consegui o carro do meu amigo."

Dentro do carro ela se soltou um pouco mais.

"Você sabe que eu sou da vida, né?"

"Sim."

"Então sabe que tem um preço."

Passei de leve uma das minhas mãos em seu rosto e acariciei o lóbulo de uma de suas orelhas, sorri e ela então ficou aturdida, coisa que nem eu imaginei.

Um pouco acanhada ela virou o rosto de leve e sorriu de fato.

"É uma droga de vida, sabia? Você já deve ter visto que eu sou péssima nesse tipo de situação", lamentou ela.

"Não importa, eu tô um pouco bêbado, mas não o suficiente pra causar um acidente viu. Mas eu to lúcido o suficiente pra saber o que eu quero", falei.

Ela se apresentou como sendo "Tetê", de Tereza – se é nome verdadeiro? Nunca mais vou saber. Contei pra ela que havia vindo de uma paixão fracassada, onde os resquícios de minha dedicação pela mulher que partiu, haviam me atingido de forma tão cruel que já havia perdido o rumo da minha vida amorosa, precisava então de uma aventura, de uma pessoa que me desse o firmamento necessário para que pudesse sentir a realidade da vida e me jogasse de frente ao pecado.

Nossa! Eu viajei demais com a conversa e ela me ouviu. Depois me falou que não tinha experiência na vida que resolveu seguir, que havia caído na noite há pouco tempo, era divorciada e o ex-marido nunca havia lhe dado um filho, mas fez questão de deixar ela sem nada.

Ela pediu para encostar o carro num residencial, cheio de apartamentos parecidos. Estacionei o carro na garagem e subimos as escadas, com ela me puxando pela mão. Entramos então num apartamento bem arrumado, todo branco, até os sofás eram brancos. Perguntou se eu queria beber algo, e disse que não. Ela então colocou um CD de baladas e se aproximou de mim, abaixei os meus olhos e ergui minha cabeça. A peguei pelo braço e a trouxe junto ao meu corpo, ela colou em mim e pude sentir o perfume de flagrância cara invadir meus sentidos. Era fraco demais para perfumes tão dóceis.

Ela passou a língua no meu pescoço e mordi o seu queixo. As mãos delas passearam pelos meus ombros e a colhi pelas costas, arranhando com os dedos do cóccix até a nuca, num passeio sinuoso e lento de carinho e massagem.

Ela arfou em minha boca e resolvi tirar o seu batom com os meus lábios. Os cabelos longos passeavam por minhas mãos que abraçavam com afinco, enquanto ela passeou com seu pescoço em investidas lentas sobre o meu rosto e pescoço.

Ela era pequena, e a peguei no colo, aninhando nos meus braços enquanto a beijava, senti que Tetê se arrepiava e a sua pele atenuava uma leve febre. Em um daqueles flashes de observação, eu fiquei imaginando que tipo de carência teria essa mulher, que transparecia ser tão experiente.

Ela me apontou uma porta de um curto corredor e adentramos. Havia uma cama de casal e uma grande poltrona. A pus no chão e ela desabotoou minha camisa, fiquei arrepiado então quando ela deu leves mordiscadas no meu pescoço e sua língua safada desceu sobre os meus mamilos. Não contive e ergui sua cabeça, ela me olhou lânguida e eu disse que naquele momento eu queria cuidar dela.

Abri o zíper do seu vestido e conferi que realmente ela usava um sutiã daqueles de poliamida, da Triumph, de cor vermelha e uma minúscula calcinha da mesma cor. A sua tez morena contrastou lindamente e nos alto de seus 44 anos ainda transparecia ser uma mulher muito bonita (é verdade mesmo, tinha suas celulites e estrias, é claro, mas não tinha visto nenhuma cicatriz e apresentava uma rigidez de carne típica de quem malhava, o que depois ela confirmou pra mim)

Ela ficou nua e depois completei tirando a minha roupa. Deitei na cama e ela sentou em cima de mim. Com volúpia desenhou sobre a minha pélvis uma dança do ventre. Ela me dominou e logo esqueci por incríveis quarenta minutos que a madrugada tinha fim e que existia um mundo real lá fora.

Na despedida, depositei um valor X sobre uma de suas mãos e ela sorriu com um ar de moleca. Me convidou para repetir o programa, e apenas concordei lhe beijando as mãos.

"Qualquer noite, qualquer madrugada... Quem sabe né".

Ela fechou a porta de seu apartamento e fui embora, ao encontro dos meus fiéis amigos que ainda estavam no Informal.

Pra variar os dois estavam "trêbados" e eu lúcido, com um som de harpa na cabeça e pensando em anjos. Entreguei a chave do carro ao meu amigo Geraldinho e fui a pé pra casa – eu moro perto do pub.

Dias depois contei a história para os caras e em outra madrugada no Informal lhes mostrei a senhora que me deu uma noite inesquecível. Ela estava bonita, mas agora parecia dileta, seletiva e com um ar superior. Me acenou de longe com um sorriso estrelado, enquanto um homem maduro, bem vestido, acariciava uma de suas mãos.

Uma noite apenas... Como diria um bom boêmio.

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