quinta-feira, 20 de maio de 2010

FIM - O que vou fazer sem você?





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Será que estamos preparados para o fim de uma relação? O que nos move a acreditar que todas as possibilidades possíveis para sustentar a dor da separação podem ser viáveis com o tempo?
Não saberia responder a essas perguntas se não revivesse todo o momento doloroso da separação e ainda me sentisse tão pequeno, ínfimo, diante da dor maior que é de dar adeus à pessoa que mais ama.

Porque tudo tem um propósito, um meio que leva ao fim e, dependendo de cada pessoa, vive-se uma relação até as suas últimas conseqüências, sem medir tempo, espaço e situações. Conhecer, estabelecer um vínculo de amizade, cultivar essa fidelidade fraternal com a pureza dos risos, trocas de segredos, mediações de idéias é um processo natural de estabelecer uma relação que pode ou não resultar em romance.

Penso que o tempo cuida de tudo, que o destino traça o caminho de cada pessoa e tudo pode ser possível, mas é a relação de confiança e intimidade – em grau variado – que faz com que o nível de atração possa ser equilibrado no senso comum da amizade ou mesmo de uma tensão sexual, por vezes, involuntária.

Mas o que traça de fato o grau de aproximação entre duas pessoas são os momentos, o despertar de traços comuns ou atrativos que movem além da mera curiosidade. Ter a certeza de que seguir determinado caminho numa relação fraternal pode ser uma decisão definitiva e que marcará a sua vida. Para o bem ou para o mal.

Relações são difíceis e cultivá-las é um exercício de tolerância e paciência. O nível de confiança e intimidade ajuda para que tudo se conspire em um beijo na boca, um carinho na nuca, uma respiração mais alta e suspiros mútuos.

Mas é manter essa relação de cumplicidade, onde um sorriso de canto, um gesto é claramente reconhecido. É um sinal de corpo tão sutil, mas de fácil assimilação entre duas pessoas que mantém uma relação íntima, que existe alegria em saber que uma outra pessoa, a que amamos, nos interpreta em todos os sentidos e compreende.

Durante algum tempo, se manter juntos é um exercício de paixão, duplicidade, olhos nos olhos, corpos colados e momentos de ternura. Esses momentos preciosos são onde o casal mantém sua segurança, a sua baliza de sustentação, conhecendo um ao outro, integrando mente, corpo e comportamento.

Existe a trilha sonora para os encontros, para as brigas que surgem, para as reconciliações chorosas. Tudo pode ser motivo de alegria ou não. Ótimo quando ele encosta a cabeça no colo dela e de leve ouve o seu coração bater. Então ele suspira alto e sorri do nada – sendo que ali representa tudo o que ele quer sentir: emoção genuína por estar tão bem com quem se ama.

Lindo para ela saber que pode estar sendo colhida nos braços com um abraço acolhedor e forte o suficiente para se sentir segura e amada. Não há como medir o nível tão intenso por esses momentos que parecem frugais, mas que representam momentos únicos. Aqueles momentos que sempre guardamos na memória, que algum dia serão lembrados antes do cair de uma ou duas lágrimas.

Eu digo que o fim é algo que nunca esperamos, mas pressentimos. Desde o primeiro momento da insegurança por algum fato isolado ou algo involuntário, por amor exigimos cumplicidade e não separatismo momentâneo. O sentimento exige reparações constantes e que nem sempre estamos aptos a dar por circunstâncias externas, seja no trabalho, familiar ou círculo de amizade mesmo.

Talvez um ponto de saturação na relação se rompa e tudo caminhe para um desgaste natural, muitas vezes resolvido com tempo e paciência, mas quando isso não ocorre e apenas podemos ver que houve um desencantamento é triste constatar que o fim é algo inerente, propício e doloroso, muito doloroso.

Tento não pensar no fim, na ruptura, mas é algo inevitável, pois vivemos sentimentos autênticos e o fim representa que acabou, que todos aqueles momentos maravilhosos antes vividos não se repetirão, que os encontros tão sensíveis e alegres não passarão de histórias de ex – contados com uma leve dor no peito. É tão triste que apesar de tudo, ainda assim teremos etapas a cumprir por causa do fim. A separação é inevitável e cortar tudo por algum tempo é um meio de não prolongar a dor e deixar que tudo flua para um sentimento de aprendizado.

Não existe fórmula para o fim e situações são isoladas para cada pessoa. Eu penso que o afastamento é um processo natural, não é um ato covarde, mas da busca da sobrevivência emocional. Isolar-se constitui de uma tentativa de tentar que o tempo fluía melhor para o esquecimento daquele sentimento tão intenso.

Não quero parecer frio por estar sendo tão esquematizado, mas vida me ensinou da pior forma possível, que toda dor na separação é superável quando se isola da pessoa que amava e se rodeia de amigos que lhe ouça, o abrace quando precisa e seja a companhia para todos os momentos necessários, de resto o tempo cumpre o seu processo natural.

Mas é tão dolorido passar pelos mesmos lugares que estiveram antes, sentir um perfume que lembra a pessoa amada, ouvir nomes semelhantes ou, pior, se deparar com ela e ainda assim saber que nada pode se feito.

Queria, na verdade, que um relacionamento de cumplicidade, amizade, amor, sexo, risos e lágrimas nunca acabasse, mas se sustentasse diante das dificuldades e trabalhasse para que a cada dia fosse uma nova aventura, um patamar novo a ser descoberto.

Será que estou preparado para o fim de uma relação? Digo, claramente, que hoje não. Mas sobreviveria. Não tem como uma pessoa sensível passar incólume pela circunstância de ainda estar apaixonado e ver que tudo pode acabar. Hoje uma despedida com lágrimas, risos, promessas de continuarem amigos e, ainda soluçando, saber que tudo ainda é um engodo, mas o fim, esse, é inevitável.

Acordar no dia seguinte depois de uma noite mal dormida e despertar de fato para que tudo simplesmente acabou, que aquela pessoa que antes lhe importava como a vida, não pode mais ser acessada e que mesmo assim tudo pareceu rápido demais. As lembranças teimam em voltar à sua cabeça e você ainda sente falta, uma baita falta.

Fica então o curto verso daquela canção que embalou seus melhores momentos onde um abraço é o mais real sentimento de proteção que poderia sentir e agora, daquela pessoa, não mais terá.
Um choro, seguido de saudade. Um choro, seguido de raiva. Um choro, seguido de ansiedade. Um choro, seguido de conformação. Talvez tudo pudesse ter sido diferente em algum ponto onde um ou o outro errou.

Dependendo da forma como acaba eu urro de raiva por ter perdido tanto tempo por alguém que talvez não merecesse o que dei de mais valioso ou choro de joelhos nos pés de algum amigo, ou amiga, pedindo ajuda para acabar com a dor que explode no meu peito e comprime o meu coração a quase um sufoco por ter perdido um amor.

Será que estamos preparados para o fim de uma relação? Não sei você. Quanto à mim, digo que não. Mas prefiro continuar vivendo a cada dia e desejando que tão longe fique esse momento. O tempo cuida da gente.

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