terça-feira, 15 de junho de 2010

Historieta: Antes que seja tarde


SAÍDA DO AEROPORTO/DIA

PERSONAGENS:

FEM (Ela)
MA (Ele)
IRM (Irmã de Ela)

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Ela colhia as mãos junto ao peito. Não conseguia esconder a ansiedade daquele momento. Precisava captar mais ar e ficar serena diante do que estava por vir. Era um momento de reencontro, da decisão de saber que era o momento definitivo entre o fim e o recomeço.

Ele caminhava a passos largos, parecia decidido, mas os olhos estavam inseguros, piscando com mais frequência. Sentia um aperto no peito e podia ter o direito de voltar e dar tudo por encerrado ou ter aquele momento final e abrir uma janela para algo mais concreto no futuro. Mas sabia que aquele era um reencontro definitivo.

Ela o viu quando cruzou o saguão e parou por um breve momento, parecia cansado, mas continuava altivo.

O coração palpitou, sentiu a boca secar e pela primeira vez sentiu vontade de chorar por causa de um homem.

Ele levantou os olhos e quando viu já deparou com ela na sua frente. Sentiu um pressão enorme no peito, e a pele esquentou momentaneamente.

MA - Oi.
FEM - Oi.

(Não existia tempo e nem pessoas em volta. Tudo paralisou. O tempo congelou naquele exato momento e havia uma trilha quase imperceptível de fundo, casando com aquele momento)

FEM - Você veio mesmo...
MA - Eu disse que vinha, não disse?
FEM - Verdade. Não sei nem o que falar.

(Ele a olhou com carinho, mas ainda assim não era o mesmo olhar do menino desamparado que ela acolheu em seus braços em algumas noites de confissões)

FEM - Você sabe o quanto é importante estar aqui para ouvir o que eu tenho para te falar.
MA - Sim, eu sei, por isso eu vim.
FEM - Você sabe que eu não fiz por mal e que foram consequências de nossos atos.

(Ele ficou fitando seus olhos e ainda tinha uma certa incredulidade)

FEM- Você e eu separamos por motivos que até hoje eu ainda não percebi, mas sei que um e outro errou em algum momento.
MA - Sim, eu sei... Já havíamos até mesmo discutido isso...
FEM - Não... Espere, eu sei... Mas não tínhamos estrutura emocional para compreender o que realmente havia de errado e você e eu não era... Não era nem para acontecer.

(Ele deu um sorriso de canto, velho conhecido dela nos trejeitos de conformação triste que ele sempre tinha quando falava algo que o machucava)

FEM - Ei não fique chateado, você sabe que é verdade.
MA - Sim, eu sei... Olha, já passamos por isso não gostaria de relembrar nossos piores momentos de discussão.

(Ela abaixou a cabeça e depois olhou firme para ele sabendo que estava com a razão)

FEM - Não vou relembrar, já passamos por essa etapa.

(Ele concordou com um leve balançar de cabeça, sinalizando positivamente)

(Ela comprimiu os lábios, estava nervosa, as mãos suavam, mas teria que fazer o certo e sabia disso)

MA- Tão importante assim o que você vai falar?
FEM - Muito, muito mesmo. Só peço que me perdoe pelo que fiz, mas achei que era o momento certo e não me sentia bem em esconder isso mais de você.

(Ele a olhou com receio, mas não escondia a ansiedade)

FEM - Deixa eu te falar que apesar do rompimento sempre mantivemos próximos e fiz o que fiz por saber que você não queria estar na situação em que te colocaria...
MA - Não estou entendendo.
FEM - Você foi o melhor homem que tive na minha vida e nunca te esqueci, mas vi que era necessário você saber.

(Ele não escondia que estava ansioso por algo que não sabia, mas que deveria ser importante)

(Ela olhou para trás dele e fez um sinal. Alguém desceu de um carro)

MA - Olha pra mim, olha... (Ela colocou uma das mãos no rosto dele e o direcionou ao dela). Eu quero que entenda que fiz algo por um amor que acreditei ser o mais bonito que tive na minha vida e por amar você demais, não me julgue por raiva, mas compreenda o que eu fiz, eu te peço isso, por favor.

(Ele sentiu uma apreensão tomar conta e olhou para ela muito sério)

Uma moça se aproximou dos dois, ele reconheceu. Era a irmã dela.

IRM - Mana, olha aqui quem eu trouxe.

Em uma das mãos, uma menininha de vestidinho claro, linda, com cabelos levemente ondulados caindo sobre os ombrinhos. Os olhos vivos e um sorriso estalado nas bochechas fartas. Deveria ter de dois a três anos de idade e andava espertamente.

(Ele abriu a boca espantado... Parou de respirar e olhou para a criança e depois para ela, incrédulo)

FEM - Essa é a nossa filha, Isabela.

(Os traços da menina tinham algo em comum com ele e o sorriso lhe era muito familiar. Abaixou a cabeça e depois espantado olhou para ela com desespero)

MA - E-eu...

(Ele se desarmou e deixou as lágrimas escorrer. Ela respirou fundo pegou a filha pela mão e a posicionou na frente dele)

FEM - Esse é o papai...

Ele sorriu e viu que um momento especial estava acontecendo de novo em sua vida. Mas ainda havia uma lacuna a ser preenchida do tempo perdido. Ela ainda lhe devia algo e ele precisava de um período para compreender as verdadeiras razões para que tudo acabasse dessa forma. Isso era apenas o princípio.

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