domingo, 24 de maio de 2009

Saudade... - Tomo I


Flores sobre o leito adormecido e um entardecer ao longo do horizonte urbano. É você em meus pensamentos, dançando sobre nuvens de algodão acompanhada da melodia serena de "Sweet Jane", na versão doce e soporífera dos Cowboys Junkies. O aroma do perfume amadeirado e o gosto amargo da descoberta juvenil. Há tantas décadas passadas.

Poster de Morrissey e um ramalhete, com aquela camisa estampada, tão cool e cafona. O dorso nu sobre os lençóis amarrotados e os olhos semicerrados, enebriados pela fonte da paixão. Um alguém, moça de sorriso fácil, olhos sempre marejados e um livro de Agatha Christie nas mãos. A visão romântica que eu não gostaria de ter ao lembrar das tardes solitárias no meu quarto.

Escrevia muitas poesias na máquina de datilografia portátil, desenhava e pintava gravuras, rostos, corpos entrelaçados, mitos e ritos aprendidos em fábulas elfônicas. Era um jovem complicado de timidez intensa e incríveis sonhos de domínio global. Como era tolo, mas não de todo incapaz.

A vida parecia tão longa, o tempo mais extenso, tudo parecia alcançável, ainda que dificultoso, mas era a vitória que compensava, a dor do aprendizado após tantas cabeçadas e o gosto amargo da decepção. Os discos de vinis, as fitas cassetes e o velho violão Giannini do meu amigo Fábio.

O cheiro do chá, os biscoitos de maizena que escondia sob o travesseiro e os gibis em formatinho que se espalhavam sobre o meu armário. Havia sorrisos tão fáceis, amizades intensas e noites de solidão, marcadas por leituras aventurescas e filmes escarsos na TV. Preferia os vídeoclipes das madrugadas longas da Globo. Talk Talk, The Smiths, The Cure, London London (versão RPM), etc...

É um tempo longínquo no espaço dos anos, mas curto na memória. E esse foi só um tomo breve da saudade que sinto.

Saudade de verdade...

(Segue abaixo um dos meus maiore fetiches musicais de todos os tempos, Durutti Column - só para acompanhar a leitura. É magia pura - Como informação: esse é um raríssimo vídeoclipe de uma música tirada do disco LC - fact 44 -, uma obra prima de Vini Reily - O vinil foi lançado no Brasil em 1987 pelo selo Stiletto/Eldorado, seis anos depois do original).



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